Remédio usado insuficiência cardíaca mostra poderoso potencial ao combate do vírus Zika

Reprodução: WikiImages/Pixabay

Pesquisas recentes indicam que a ouabaína, um hormônio extraído de plantas, apresenta efeitos promissores no tratamento do vírus Zika, que ficou mundialmente conhecido por sua associação a distúrbios neurológicos, especialmente em fetos. Historicamente utilizada como veneno de flecha na África Oriental, a substância também foi empregada como medicamento cardiotônico, destinado a fortalecer o coração. Agora, ela surge como uma possível aliada no combate ao vírus, despertando o interesse de pesquisadores no Brasil.

O Zika, que gerou uma crise de saúde pública em 2015 e 2016, levando ao nascimento de bebês com microcefalia, ainda não possui tratamentos antivirais específicos. Apesar de a epidemia ter sido controlada, o vírus permanece uma ameaça. Entre janeiro e junho de 2024, o Ministério da Saúde brasileiro registrou 8.519 casos prováveis de Zika, refletindo um aumento de 9% em relação ao ano anterior. O risco de novos surtos é real, uma vez que o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, segue presente em diversas regiões do Brasil.

A ouabaína, substância identificada em 1888, tem uma história curiosa. Extraída de plantas como Acocanthera ouabaio e Strophanthus, era utilizada em rituais de envenenamento e, mais tarde, foi incorporada ao tratamento de insuficiência cardíaca. Apenas na década de 1960 foi descoberto que ela regula os níveis de cálcio, sódio e potássio nas células do coração. Recentemente, a ouabaína também demonstrou capacidade de interferir nas respostas imunológicas, abrindo portas para novas aplicações terapêuticas, como no combate ao Zika.

A equipe liderada pela professora Sandra, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), investiga há mais de 15 anos os efeitos da substância. Juntamente com pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, foram realizados testes em células infectadas pelo Zika, e os resultados mostraram uma significativa redução da quantidade de partículas virais. Além disso, simulações computacionais indicaram que a ouabaína pode inibir a replicação do vírus. Esses resultados preliminares foram publicados na Scientific Reports, e os estudos seguem em andamento para confirmar a eficácia da substância.

Em experimentos com modelos animais, a ouabaína preveniu a redução do tamanho de fetos e cabeças, além de reduzir a presença do vírus na placenta e tecidos fetais. A substância também foi capaz de diminuir a inflamação associada à infecção, apontando um caminho promissor para o tratamento da síndrome congênita provocada pelo Zika.

No entanto, o uso da ouabaína enfrenta desafios. Apesar de ser um medicamento conhecido, ela não é mais aprovada para uso clínico por órgãos reguladores como a Anvisa, no Brasil, e o FDA, nos Estados Unidos, devido ao risco de toxicidade em doses elevadas. Para contornar essa limitação, pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei desenvolveram versões da substância com menor toxicidade, mantendo seus efeitos terapêuticos. Testes dessas novas moléculas contra o Zika já estão em andamento.

Ainda, alguns estudos indicam que o exercício físico intenso pode aumentar a produção natural de ouabaína no organismo, o que abre novas possibilidades de prevenção contra infecções virais, sem os riscos de dosagem excessiva.

Com a perspectiva de reposicionamento da ouabaína como antiviral, os pesquisadores esperam acelerar a criação de um tratamento eficaz contra o Zika, uma vez que, por ser uma substância já conhecida, o processo de desenvolvimento de novos medicamentos seria mais rápido e menos oneroso.

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