Uma pesquisa realizada por especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em colaboração com a Universidade de Medicina Baylor, nos Estados Unidos, revelou que gestantes infectadas pelo coronavírus estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia. Essa complicação, caracterizada por pressão arterial elevada, é perigosa tanto para a mãe quanto para o bebê.
O estudo, publicado no jornal americano de imunologia no segundo semestre de 2024, detalha a correlação entre a pré-eclâmpsia e a infecção por Covid, além de identificar marcadores específicos que podem auxiliar no diagnóstico diferencial. A pesquisa mostra que tanto a Covid quanto a pré-eclâmpsia têm o potencial de causar disfunção em múltiplos órgãos e de interferir nos mecanismos de regulação da pressão arterial, aumentando o risco de complicações durante a gestação.
Desafios no diagnóstico
De acordo com os pesquisadores, uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos médicos é diferenciar os sintomas da pré-eclâmpsia dos efeitos da Covid na gestação. As semelhanças entre os quadros clínicos podem ser tão grandes que, em alguns casos, os profissionais de saúde enfrentam desafios significativos ao tentar identificar a condição que a gestante está enfrentando.
A pré-eclâmpsia costuma surgir no terceiro trimestre de gestação, podendo levar a complicações como parto prematuro e aumento do risco de hemorragias. As gestantes afetadas pela condição podem também apresentar insuficiência renal, hepática e disfunção placentária. Esses sintomas também são comuns em casos graves de Covid, em razão da inflamação exacerbada provocada pelo vírus.
Distinções entre os tratamentos
O grande desafio para os médicos é o protocolo de atendimento, que varia conforme a condição. Enquanto a pré-eclâmpsia pode demandar a antecipação do parto para a segurança da mãe e do bebê, a infecção por Covid é tratada com suporte clínico até a resolução da infecção. Por isso, a diferenciação precisa ser rápida e precisa.
“Ambas as condições podem causar disfunção de múltiplos órgãos e hipertensão, além de provocarem alterações nos mecanismos de regulação da pressão. Por isso, a infecção por Covid pode aumentar o risco de pré-eclâmpsia”, explicam os especialistas envolvidos na pesquisa.
Mecanismos biológicos em comum
Na pré-eclâmpsia, há um desequilíbrio entre as proteínas pró-angiogênicas e antiangiogênicas, o que pode ser identificado por esses biomarcadores. “Esses marcadores são específicos para a hipertensão gestacional e não sofrem alterações durante a infecção por Covid”, explicam os pesquisadores.
Aumento da mortalidade materna
A pré-eclâmpsia é responsável por mais de 300 mortes maternas no Brasil anualmente. Durante a pandemia de Covid-19, as mortes relacionadas à gravidez aumentaram de forma alarmante. Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2020, 1.965 mulheres morreram durante a gestação, parto ou puerpério. Esse número subiu para 3.030 em 2021.
Apesar dos números elevados, não é possível associar diretamente o aumento da mortalidade ao crescimento de casos de Covid, uma vez que não há exames específicos que possam fazer essa correlação. “A Covid trouxe à tona questões que já enfrentávamos. A meta para 2030 é reduzir a taxa de mortalidade para menos de 30 mortes por 100 mil nascidos vivos. Atualmente, estamos em 70 mortes para cada 100 mil nascidos vivos, e em 2021, a média nacional atingiu 120”, afirmam os especialistas.