O crescimento da obesidade pode representar um grande desafio para a saúde pública global se não forem adotadas medidas efetivas. De acordo com um estudo divulgado na última segunda-feira (03/03) na respeitada revista científica The Lancet, a estimativa é de que 60% dos adultos em todo o mundo e aproximadamente 31% das crianças e adolescentes estarão com sobrepeso ou obesidade até 2050.
Emmanuela, professora da Universidade de Washington, principal autora do estudo, declarou em comunicado que “a epidemia global de sobrepeso e obesidade é uma tragédia profunda e um grande fracasso social”.
Em 2021, mais de 2 bilhões de adultos e cerca de 493 milhões de crianças e adolescentes já viviam com excesso de peso. O estudo prevê que o número de crianças e adolescentes obesos aumentará ainda mais rápido que o de adultos, com crescimento acelerado até 2030. Se não houver mudanças políticas e ações imediatas, até 2050, cerca de 3,8 bilhões de adultos e 746 milhões de crianças e adolescentes estarão nessa condição.
A pesquisa analisou dados de 204 países e territórios entre 1990 e 2021, utilizando 1.350 fontes, como pesquisas nacionais e multicontinentais. O estudo faz parte da colaboração Global Burden of Disease BMI.
Obesidade e sobrepeso segundo o IMC
O estudo classificou o sobrepeso e a obesidade com base no Índice de Massa Corporal (IMC). Para adultos, o sobrepeso é definido por um IMC entre 25 e 29,9, enquanto a obesidade começa a partir de um IMC igual ou superior a 30. Para menores de 18 anos, os critérios seguem as diretrizes da International Obesity Task Force.
Entre os países mais afetados pela obesidade atualmente, oito concentram mais da metade dos adultos obesos: China (402 milhões), Índia (180 milhões), Estados Unidos (172 milhões), Brasil (88 milhões), Rússia (71 milhões), México (58 milhões), Indonésia (52 milhões) e Egito (41 milhões).
A pesquisa aponta que, até 2050, China, Índia e Estados Unidos continuarão sendo os países com maior número de adultos obesos, mas o maior crescimento será registrado na África Subsaariana, onde o número de casos deve aumentar em mais de 250%, alcançando 522 milhões de adultos.
Implicações para os sistemas de saúde pública
O aumento da obesidade terá sérias repercussões tanto na saúde pública quanto na economia global. De acordo com os pesquisadores, um quarto dos adultos obesos em 2050 terá 65 anos ou mais, o que poderá sobrecarregar ainda mais os sistemas de saúde, principalmente em países com recursos limitados.
Além disso, as novas gerações estão ganhando peso de forma mais rápida e em idades mais precoces, o que aumenta a probabilidade de desenvolvimento de doenças como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardíacas e até mesmo câncer desde a juventude.
professor clínico associado do IHME, destacou que “as taxas de obesidade estão crescendo rapidamente na África Subsaariana, com mais de 200 milhões de jovens projetados até 2050. Isso sobrecarregará ainda mais os sistemas de saúde, que não estão preparados para lidar com o aumento das doenças relacionadas à obesidade”.
Urgência em adotar políticas públicas eficazes
Os autores do estudo alertam que, se não forem implementadas políticas públicas eficazes, o aumento da obesidade poderá ter consequências irreversíveis. A falta de ações concretas nas últimas décadas contribuiu para o crescimento acelerado da condição, tornando a adoção de medidas preventivas urgente.
Emmanuela reforça que “governos e organizações de saúde pública podem utilizar nossas estimativas específicas por país para identificar populações prioritárias que enfrentam os maiores impactos da obesidade e que precisam de intervenções imediatas”.
Entre as principais recomendações do estudo estão políticas públicas que incentivem a alimentação saudável, regulamentação da indústria alimentícia, programas de educação nutricional e promoção de atividades físicas. Especialistas alertam que, sem mudanças estruturais, o mundo pode enfrentar uma crise de saúde pública sem precedentes nas próximas décadas.
