“Terapia da Rejeição” ganha popularidade nas redes sociais, mas pode agravar problemas de saúde mental

Reprodução: wayhomestudio/pixabay

Nos últimos meses, a chamada “terapia da rejeição” se tornou um fenômeno viral, especialmente nas redes sociais como o TikTok. Centenas de jovens têm compartilhado suas experiências com essa prática, alegando que ela os ajudou a lidar com questões como ansiedade, autoestima e medo de fracasso. No entanto, especialistas alertam que a técnica, embora atraente, não possui respaldo científico e pode ter efeitos prejudiciais à saúde mental.

A prática consiste em se expor deliberadamente a situações desconfortáveis ou vergonhosas, com a expectativa de ser rejeitado. Os praticantes, por exemplo, podem pedir dinheiro emprestado a estranhos na rua, solicitar abraços no meio de uma multidão ou até mesmo pedir um produto gratuitamente em uma cafeteria. A ideia é que, ao enfrentar essas situações e ouvir um “não”, a pessoa consiga superar o medo da rejeição, tornando-se mais resiliente.

Embora a exposição seja filmada e compartilhada nas redes sociais, a intenção não é que a pessoa realmente deseje o que está pedindo, mas sim que ela supere a barreira emocional de fazer a solicitação. Porém, essa forma de exposição pode acabar intensificando a ansiedade e o sofrimento emocional de quem a pratica.

Exposição Controlada X Exposição Desnecessária

A “terapia da rejeição” é uma interpretação simplificada e sem supervisão profissional da “terapia de exposição”, uma técnica validada cientificamente e utilizada por psicólogos no tratamento de transtornos como fobias sociais, síndrome do pânico e ansiedade generalizada. A terapia de exposição, que faz parte da abordagem cognitivo-comportamental (TCC), envolve expor o paciente de forma gradual a situações que geram medo, com o objetivo de diminuir a reação exagerada de medo por meio da dessensibilização. A técnica começa com a exposição a imagens ou realidade virtual, antes de avançar para situações reais.

De acordo com o especialista Elton, o processo controlado da terapia de exposição permite que o medo persista, mas de uma forma mais administrável, com o objetivo de reduzir o sofrimento. Além disso, o paciente aprende técnicas de relaxamento para reduzir os níveis de ansiedade e tensão.

Já a “terapia da rejeição” não segue nenhum protocolo clínico e, ao ser filmada e compartilhada nas redes sociais, pode, na verdade, aumentar os níveis de ansiedade, especialmente em indivíduos mais suscetíveis. “Se expor a situações bizarras sem uma orientação adequada não tem sentido. Expor-se a contextos reais do cotidiano para desenvolver habilidades socioemocionais seria mais produtivo. No entanto, passar vergonha de forma gratuita só gera desgaste emocional e não traz benefícios”, afirma Elton.

Consequências Emocionais e Sociais

Além do impacto imediato de ser rejeitado, a prática de compartilhar essas experiências nas redes sociais pode gerar consequências mais profundas. A exposição contínua a julgamentos públicos e críticas pode agravar o quadro de ansiedade de quem já tem dificuldades emocionais. O especialista alerta que, ao buscar aprovação e engajamento online, a pessoa se coloca sob a pressão de agradar aos outros, o que pode piorar sua saúde mental, principalmente se a resposta do público não for positiva.

“Os jovens de hoje em dia não estão acostumados a ouvir ‘não’. Muitos buscam soluções rápidas e fáceis para lidar com isso, mas a falta de controle sobre o engajamento nas redes pode gerar frustração. Se a pessoa não recebe a aceitação que esperava, isso pode intensificar a insegurança e a ansiedade”, diz o especialista.

Embora a “terapia da rejeição” pareça uma abordagem interessante para aqueles que buscam vencer a insegurança, ela não deve ser considerada uma solução definitiva. “Trabalhar questões como a rejeição e a frustração exige acompanhamento profissional. Um terapeuta pode ajudar a pessoa a lidar com essas emoções de maneira saudável, evitando que ela se sinta ainda mais ansiosa ou desvalorizada”, conclui Elton.

Assim, a recomendação dos especialistas é que, em casos de problemas emocionais, a pessoa busque tratamentos reconhecidos e que sejam conduzidos por profissionais qualificados, ao invés de recorrer a métodos não comprovados que podem, na realidade, agravar os sintomas.

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