Teste de saliva promete revolucionar o diagnóstico precoce do câncer de próstata

Reprodução: analogicus/pixabay

Um novo exame genético feito a partir da saliva pode transformar a forma como o câncer de próstata é detectado precocemente — e isso pode mudar vidas. Pesquisadores britânicos afirmam que o teste é capaz de identificar homens com maior predisposição genética à doença, possibilitando diagnósticos mais rápidos e eficazes.

A proposta do exame não é detectar o câncer em si, mas analisar o DNA em busca de mutações genéticas ligadas ao desenvolvimento do câncer de próstata. A partir dessa análise, é possível definir quem corre mais risco e, assim, encaminhar esses homens para exames mais específicos, como ressonância magnética e biópsia. O resultado? Tumores agressivos, que poderiam passar despercebidos pelos métodos atuais, foram identificados com sucesso.

Ainda não é a solução definitiva — mas é um passo promissor

Apesar dos avanços, os especialistas alertam que ainda é cedo para dizer que o teste salva vidas. Será necessário tempo e mais estudos para comprovar se ele realmente aumenta a sobrevida dos pacientes ou melhora a qualidade de vida. Ainda assim, os dados preliminares são animadores.

Cerca de 12 mil homens morrem de câncer de próstata todos os anos no Reino Unido. A procura por exames de rastreamento aumentou recentemente, principalmente após o ciclista olímpico Chris Hoy tornar pública sua luta contra um câncer de próstata terminal.

Apesar disso, os exames de rotina, como o PSA (antígeno prostático específico), têm sido alvo de discussões. No Reino Unido, o PSA deixou de ser recomendado como ferramenta de rastreamento populacional justamente por trazer mais riscos do que benefícios em muitos casos. No Brasil, tanto o Ministério da Saúde quanto o Instituto Nacional de Câncer (Inca) também são contra o rastreamento generalizado. Já a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) defende a importância dos exames periódicos, especialmente para grupos de risco.

Como funciona o teste?

O exame genético analisa 130 mutações específicas ligadas ao risco de câncer de próstata. No estudo, publicado na New England Journal of Medicine, participaram homens entre 55 e 69 anos. Aqueles classificados entre os 10% com maior risco genético foram encaminhados para exames mais aprofundados.

Entre os 745 homens com alto risco:

  • 468 toparam seguir com os exames;
  • 187 foram diagnosticados com câncer de próstata;
  • 103 apresentavam tumores considerados de alto risco, com necessidade de tratamento imediato;
  • 74 desses tumores não teriam sido detectados tão cedo pelos métodos convencionais.

“Com esse teste, podemos identificar os homens que realmente precisam ser acompanhados de perto, enquanto poupamos outros de exames e tratamentos desnecessários”, destacou uma especialista do Instituto de Pesquisa do Câncer, em Londres.

Dois irmãos, dois diagnósticos — e um teste que salvou vidas

O britânico Dheeresh Turnbull, de 71 anos, participou do estudo e descobriu que estava entre os que tinham maior risco genético — mesmo sem histórico familiar da doença. Exames confirmaram que ele já tinha câncer de próstata. Seu irmão mais novo também foi testado e teve o mesmo diagnóstico. “Se eu não tivesse feito parte da pesquisa, talvez nunca tivesse descoberto a tempo. É incrível pensar que duas vidas da minha família foram salvas”, relatou.

Avanços, limitações e próximos passos

Apesar do entusiasmo, o teste ainda está longe de ser adotado como padrão. Um dos pesquisadores, da Universidade King’s College London, afirmou que o exame trouxe uma melhora “modesta” na detecção de casos quando somado aos fatores de risco atuais, como idade, PSA e ressonância.

Outro ponto de atenção: o estudo foi conduzido com pessoas de ascendência europeia, o que limita sua aplicação para outras populações. Homens negros, por exemplo, têm o dobro do risco de desenvolver câncer de próstata — e ainda não há dados consolidados sobre a eficácia do teste nesse grupo.

Também não está claro se o teste será viável economicamente ou qual seria o melhor momento para utilizá-lo como ferramenta de rastreamento em larga escala. Ele deve, agora, integrar o estudo Transform, que busca entender como implementar de forma eficiente o rastreamento do câncer de próstata no Reino Unido.

Pesquisadores acreditam que esse pode ser um marco no uso da genética para prevenir doenças. Mas, como destacou um professor da Universidade de Cambridge, “esse é um grande passo na direção certa, mas ainda há um longo caminho até que esse tipo de teste esteja disponível na prática clínica”.

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