Um medicamento tradicionalmente utilizado para controlar crises epilépticas pode estar prestes a ganhar uma nova função terapêutica. Pesquisadores da Universidade de Gotemburgo e do Hospital Universitário Sahlgrenska, na Suécia, descobriram que o sulthiame, conhecido por seu uso no tratamento da epilepsia, pode também ser eficaz no combate à apneia obstrutiva do sono.
A substância age no sistema nervoso ao elevar os níveis de fenitoína, um anticonvulsivante já consolidado na prática médica. Além disso, o sulthiame tem impacto direto no sistema respiratório, ao inibir a ação de uma enzima chamada anidrase carbônica, que desempenha papel importante no estímulo aos músculos responsáveis por manter as vias aéreas abertas durante o sono.
Para investigar os possíveis efeitos do medicamento sobre a apneia do sono, o estudo recrutou cerca de 300 pacientes em cinco países europeus — Espanha, França, Bélgica, Alemanha e República Tcheca. Nenhum dos participantes utilizava tratamentos convencionais como o CPAP (ventilação com pressão positiva contínua) ou dispositivos orais.
Durante o experimento, três quartos dos pacientes receberam sulthiame em diferentes dosagens, enquanto o restante usou placebo. Os resultados chamaram atenção: os que tomaram a dose mais alta do medicamento apresentaram uma melhora de 40% a 50% na respiração noturna, de acordo com diferentes parâmetros utilizados para avaliar a apneia. Além disso, esses pacientes relataram menor sonolência diurna e níveis médios de oxigênio no sangue mais elevados.
Os efeitos colaterais observados foram, em sua maioria, leves a moderados, incluindo formigamento, dor de cabeça, náuseas e fadiga — sintomas já conhecidos entre usuários do medicamento em tratamentos para epilepsia.
Apesar dos resultados promissores, os autores do estudo reforçam que ainda são necessários novos ensaios clínicos antes que o sulthiame possa ser oficialmente indicado para tratar a apneia do sono. A expectativa, no entanto, é que a pesquisa abra caminhos para abordagens alternativas ao CPAP, especialmente para os pacientes que têm dificuldade de adaptação ao equipamento.