O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi submetido a uma cirurgia extensa e de grande complexidade no último fim de semana, em Brasília, após apresentar um novo quadro de obstrução intestinal. O procedimento durou cerca de 12 horas e foi realizado para remover aderências e reconstruir parte da parede abdominal. Segundo o boletim médico, não houve intercorrências durante a operação, e Bolsonaro segue internado na UTI, clinicamente estável e sem dores.
A nova intervenção reacende a discussão sobre as consequências de uma facada sofrida por Bolsonaro em 2018, durante a campanha presidencial em Juiz de Fora (MG). Desde então, o ex-presidente acumula uma série de cirurgias na região abdominal — muitas delas ligadas a complicações intestinais recorrentes causadas pelas chamadas aderências, que são formações fibrosas semelhantes a cicatrizes internas.
Entenda o que são aderências
Aderências se formam quando há inflamação ou lesão no peritônio, a membrana que reveste os órgãos abdominais. Procedimentos cirúrgicos, especialmente em casos de perfurações intestinais, aumentam o risco dessas cicatrizações anormais que “grudam” os órgãos uns aos outros. Em casos como o de Bolsonaro, isso pode limitar a movimentação natural do intestino, causar dobras no tubo digestivo e impedir o trânsito de alimentos e secreções — resultando em obstruções intestinais.
A primeira cirurgia de Bolsonaro, realizada imediatamente após o atentado de 2018, já evidenciou complicações. Dias depois, ele precisou ser novamente operado para tratar aderências e uma fístula (comunicação anormal entre órgãos). Ao longo dos anos, o ex-presidente passou por outras intervenções para retirada de bolsa de colostomia e correção de hérnias, todas elas influenciadas pelas cicatrizes internas que se formaram com o tempo.
Tratamento é delicado e nem sempre cirúrgico
Na maioria dos casos, obstruções intestinais são tratadas de forma conservadora, com jejum e uso de sondas para aliviar o acúmulo de gases e líquidos. Contudo, quando o bloqueio é grave ou persistente, a cirurgia se torna inevitável.
De acordo com médicos entrevistados pela BBC News Brasil, procedimentos como o realizado em Bolsonaro exigem alto grau de complexidade, pois é preciso “esculpir” cuidadosamente as alças intestinais para remover as aderências e restaurar o fluxo digestivo. Em situações mais críticas, pode até ser necessário remover trechos necrosados do intestino.
Cirurgias podem gerar novas complicações
O maior desafio nesses casos é que as próprias cirurgias que salvam a vida do paciente também elevam o risco de novas aderências no futuro. “Quanto mais intervenções são feitas no abdômen, maior a probabilidade de formação de novas cicatrizes”, explicou o cirurgião Raphael Di Paula. Ele ressalta que, infelizmente, não há forma conhecida de prevenir o surgimento dessas aderências — não existem medicamentos, dietas ou hábitos comprovadamente eficazes nesse sentido.
Fonte: Terra