Por que adultos estão bebendo leite materno — e os riscos por trás dessa tendência

Reprodução: cuidandotudiabetes/pixabay

O leite materno é reconhecido como um dos alimentos mais completos para bebês. Rico em nutrientes, anticorpos e substâncias que promovem o crescimento e a imunidade, ele é essencial nos primeiros meses de vida. Mas, recentemente, esse “ouro líquido” também passou a chamar a atenção de um público inusitado: adultos.

Fisiculturistas, entusiastas da saúde e curiosos vêm apostando nas supostas propriedades do leite materno como um “superalimento” para ganhar massa muscular, reforçar o sistema imunológico ou simplesmente melhorar a saúde. A tendência, no entanto, acende alertas entre especialistas, que questionam tanto a eficácia quanto a segurança dessa prática.

“Queria crescer como um bebê”

Jameson Ritenour, de 39 anos, pai de três filhos, começou a consumir leite materno durante a amamentação de sua parceira, que produzia mais do que o necessário. Ele misturava o leite em shakes e afirma ter notado melhorias em sua composição corporal e bem-estar.

“Provavelmente estava na melhor forma da minha vida”, disse em entrevista à BBC. “Ganhava massa muscular, perdia peso e não ficava doente.”

Encantado com os resultados, Jameson manteve o consumo mesmo após o fim do relacionamento. Sem acesso ao leite armazenado da ex-companheira, passou a comprá-lo pela internet — sem saber dos riscos envolvidos nesse tipo de transação.

A ciência não acompanha o entusiasmo

Embora o leite materno seja altamente nutritivo para bebês, não há evidências científicas robustas que confirmem benefícios reais para adultos. Alguns especialistas, como o médico Lars Bode, da Universidade da Califórnia, reconhecem que o leite contém alta concentração de proteínas e compostos interessantes, mas recomendam cautela.

“Fisiculturistas estão muito atentos aos próprios corpos. Pode haver algum efeito, mas a ciência ainda não acompanhou essa hipótese”, diz Bode.

O que preocupa é que, na maioria das vezes, o leite é adquirido por meio de redes sociais, sem controle sanitário ou garantia de procedência. Um estudo do Nationwide Children’s Hospital revelou que 75% das amostras de leite compradas online estavam contaminadas com patógenos, e 10% estavam adulteradas com leite de vaca ou fórmula infantil.

Além disso, o leite humano pode transmitir doenças como HIV, hepatite e sífilis, caso não seja corretamente testado.

Impactos éticos e sociais

Especialistas também alertam para os impactos morais da prática. Para Meghan Azad, pesquisadora de saúde infantil, a maior preocupação é o desvio do leite que deveria ser destinado a bebês em situação de vulnerabilidade, como prematuros internados em UTIs neonatais.

“Não temos leite suficiente nem para os bebês que realmente precisam. Redirecionar esse leite para adultos é problemático”, afirma.

O risco aumenta quando mulheres começam a vender leite online para fins lucrativos, em vez de doá-lo a bancos de leite certificados.

Jameson, por outro lado, não vê problema em sua escolha. Ele diz que apenas aproveita excedentes e afirma ter sido procurado por mais de 100 mulheres interessadas em vender leite.

“Não estou na porta de hospitais pedindo leite de mães. As pessoas exageram.”

Uma nova fronteira da ciência

Apesar das críticas ao consumo adulto direto, os pesquisadores reconhecem o potencial do leite materno como fonte de compostos promissores para tratamentos médicos. Os oligossacarídeos do leite humano (HMOs), por exemplo, estão sendo estudados por seus efeitos no microbioma intestinal e na imunidade.

Estudos com camundongos já demonstraram que os HMOs podem reduzir o risco de aterosclerose, condição que leva a infartos e AVCs. Ensaios clínicos em humanos estão em andamento.

“O leite humano é a única substância criada biologicamente para humanos”, afirma Bode. “É possível que, no futuro, componentes do leite sejam usados no tratamento de doenças como câncer, doenças cardíacas e intestinais.”

O veredito?

Enquanto os estudos seguem em curso, especialistas recomendam que adultos não consumam leite materno diretamente, especialmente se adquirido de fontes informais. Os riscos de contaminação são reais, e o impacto ético da retirada desse recurso de bebês que dependem dele para sobreviver também precisa ser considerado.

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