Mesmo após anos sem uso, os efeitos dos esteroides anabolizantes podem continuar impactando negativamente a fertilidade masculina. Essa é a constatação de especialistas que alertam para os riscos duradouros dessas substâncias no organismo, especialmente no funcionamento dos testículos e na produção de espermatozoides.
A recente proibição da prescrição de anabolizantes com finalidade estética pelo Conselho Federal de Medicina ajudou a reduzir o uso, mas os danos à saúde, em muitos casos, são persistentes. Um dos principais problemas é a inibição da produção de hormônios essenciais para a maturação das células reprodutivas.
“O uso prolongado de esteroides pode causar uma disfunção testicular que, mesmo após a suspensão, nem sempre é totalmente reversível”, explica um especialista em reprodução humana. A razão está no excesso de testosterona artificial, que interfere na sinalização hormonal natural dos testículos, dificultando a produção endógena.
Estudo comprova efeitos duradouros
Um estudo publicado no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, em 2021, acompanhou 132 homens entre 18 e 50 anos, todos praticantes de musculação. Os participantes foram divididos em três grupos: nunca usuários, usuários ativos e ex-usuários que interromperam o uso há pelo menos três anos.
Para avaliar o funcionamento testicular, os cientistas utilizaram como marcador o peptídeo INSL3, produzido pelas mesmas células que sintetizam testosterona. O resultado foi claro: tanto os usuários ativos quanto os ex-usuários apresentaram níveis significativamente mais baixos do peptídeo, o que indica uma disfunção testicular prolongada — mesmo após anos sem uso.
Fertilidade pode ser recuperada?
Embora o impacto seja relevante, em muitos casos a fertilidade pode ser parcialmente recuperada. Homens que fizeram uso de anabolizantes e desejam ter filhos devem procurar um especialista para avaliação, incluindo a realização de um espermograma.
Além do acompanhamento médico, algumas mudanças no estilo de vida podem colaborar para a recuperação da função reprodutiva:
- Alimentação balanceada
- Prática regular de atividade física
- Controle do peso
- Evitar álcool em excesso e parar de fumar
- Manter frequência sexual, principalmente nos dias férteis da parceira
Segundo o especialista, essas medidas podem melhorar tanto a quantidade quanto a qualidade dos espermatozoides. No entanto, quando as tentativas naturais não resultam em gravidez, há alternativas mais avançadas.
Reprodução assistida como opção
Entre os tratamentos disponíveis, destaca-se a fertilização in vitro (FIV), em que óvulo e espermatozoide são fecundados em laboratório, com posterior transferência do embrião para o útero da mulher. Em casos com baixa qualidade espermática, pode ser utilizada a técnica de injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), que seleciona o melhor espermatozoide individualmente para ser injetado diretamente no óvulo.
“A escolha do método ideal depende de vários fatores, como idade, histórico clínico e exames do casal. Por isso, é essencial a avaliação por um especialista em reprodução humana”, orienta o médico.