Ruídos considerados comuns pela maioria das pessoas — como o barulho de talheres, o som de alguém mastigando ou o clique repetitivo de uma caneta — podem ser gatilhos de ansiedade, irritação intensa ou até dor física para indivíduos que convivem com hiperacusia ou misofonia. Essas duas condições envolvem uma resposta exagerada do cérebro a estímulos sonoros e podem afetar significativamente a qualidade de vida.
De acordo com especialistas, esses distúrbios não estão ligados à perda de audição, mas sim a uma forma anormal de o cérebro processar sons. “A hiperacusia é caracterizada por dor ou desconforto diante de sons que, para outras pessoas, são considerados normais. Já a misofonia provoca uma reação emocional intensa, como raiva ou angústia, geralmente diante de sons específicos, como respiração ou mastigação”, explica um médico especialista em saúde auditiva.
Resposta cerebral alterada
A origem do problema está em uma disfunção do processamento auditivo central. Em outras palavras, o cérebro dessas pessoas não consegue filtrar adequadamente os sons, reagindo de forma exacerbada a estímulos sonoros cotidianos.
Muitas vezes, quem sofre com hiperacusia ou misofonia é mal interpretado como intolerante ou sensível em excesso. No entanto, estudos mostram que há bases neurológicas para essas reações. “É importante desmistificar essa percepção de exagero. Há uma resposta real e disfuncional do sistema nervoso, que merece atenção e tratamento”, ressalta o especialista.
Fatores que contribuem para o surgimento
O desenvolvimento desses distúrbios pode estar associado a uma combinação de fatores. Entre os mais comuns estão o estresse crônico, quadros de ansiedade e depressão, além de traumas acústicos, como a exposição prolongada a sons intensos ou infecções virais que afetam a audição.
“Pacientes com hiperacusia costumam relatar que passaram a sentir dor ao ouvir determinados sons após eventos como infecções, estresse excessivo ou acidentes com ruído alto”, afirma o especialista.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da hiperacusia e da misofonia exige avaliação clínica detalhada, que inclui testes auditivos e análise do histórico emocional e neurológico do paciente. É importante descartar outras causas orgânicas antes de confirmar o quadro.
O tratamento costuma envolver uma abordagem multidisciplinar, com terapias sonoras, psicoterapia, técnicas de reeducação auditiva e estratégias de gerenciamento do estresse. Em alguns casos, o uso de aparelhos que emitem ruídos controlados pode ajudar na dessensibilização.
“O mais importante é que a pessoa afetada saiba que existe tratamento. Reconhecer o problema e buscar ajuda especializada são passos fundamentais para retomar o bem-estar no convívio com sons do cotidiano”, conclui o especialista.