A recente aprovação de um novo analgésico pelo órgão regulador de medicamentos dos Estados Unidos, promete ser uma importante ferramenta no combate à crescente crise de opioides no país, que em 2022 resultou em mais de 80 mil mortes por overdose, conforme dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Os opioides, conhecidos por sua alta eficácia no alívio da dor, são frequentemente prescritos, mas têm um alto potencial de dependência, o que aumenta o risco de abuso e vício. A novidade, chamada suzetrigina, será comercializada nos Estados Unidos sob o nome de Journavx e foi desenvolvida pela Vertex Pharmaceuticals. Trata-se de um analgésico de uma nova classe, que atua diretamente no local da dor, modulando os sinais antes que estes cheguem ao cérebro, ao contrário dos opioides, que afetam os receptores cerebrais.
Especialistas apontam que essa diferença no mecanismo de ação pode eliminar o risco de dependência e vício, especialmente em situações de dor aguda, como após cirurgias ou acidentes.
Avanço no Tratamento da Dor Aguda
“A aprovação desse medicamento é um marco importante no tratamento da dor aguda”, afirmou Jacqueline Corrigan-Curay, diretora do Centro de Avaliação e Pesquisa de Medicamentos do FDA. “Essa nova classe de analgésico não opioide oferece a oportunidade de mitigar os riscos associados ao uso de opioides e oferece mais uma opção para os pacientes”, acrescentou.
Essa aprovação representa a primeira em mais de 20 anos para uma nova classe de analgésicos, evidenciando os desafios enfrentados pelos cientistas no desenvolvimento de novos tratamentos para a dor.
Cenário no Brasil e no Mundo
Enquanto nos Estados Unidos a crise de overdose de opioides continua a devastar a população, no Brasil o uso indiscriminado desses medicamentos também é motivo de preocupação. Em 2019, um estudo realizado pela Fiocruz revelou que 4,4 milhões de brasileiros já haviam utilizado opioides sem prescrição médica, um dado alarmante que exige ações preventivas para evitar a propagação do problema.
O Mecanismo por Trás da Suzetrigina
O pesquisador Stephen Waxman, da Universidade de Yale, tem dedicado os últimos 30 anos ao estudo dos mecanismos do corpo humano na resposta à dor. Ele foca principalmente nos nervos do sistema periférico, responsáveis por transmitir sinais ao cérebro, e nas moléculas químicas envolvidas nesse processo.
Segundo Waxman, “os opioides funcionam como uma chave e uma fechadura dentro do cérebro”, bloqueando os sinais de dor. No entanto, o verdadeiro avanço da suzetrigina está em agir diretamente na transmissão do sinal de dor nos nervos periféricos, evitando os efeitos colaterais como sonolência, confusão mental e dependência, comuns aos opioides.
Desafios no Estudo da Dor
Desenvolver tratamentos eficazes para a dor tem sido uma das tarefas mais desafiadoras para a ciência. Ao contrário de outras doenças, a dor é uma sensação subjetiva, o que dificulta a medição precisa e a criação de terapias universalmente eficazes. Waxman acredita que estamos apenas no começo desse avanço, e que em 10 ou 15 anos poderemos ver tratamentos personalizados baseados no genoma, voltados para o controle da dor.
Reduzindo o Risco de Dependência
Com o potencial de minimizar a dependência dos opioides, a chegada da suzetrigina oferece uma esperança para reduzir a exposição de pacientes a substâncias que podem levar ao vício. Estima-se que entre 9% e 13% dos pacientes que utilizam analgésicos opioides após cirurgias desenvolvem dependência crônica.
Especialistas também indicam que, além de novos medicamentos como a suzetrigina, o desenvolvimento de políticas públicas para o manejo de condições de dor aguda pode ser parte de uma estratégia de longo prazo para conter o abuso de opioides e melhorar o tratamento de dor de maneira mais segura.
