O câncer de esôfago é uma das doenças mais letais do sistema digestivo — e, ao mesmo tempo, uma das menos discutidas. De progressão rápida e geralmente assintomática nos estágios iniciais, ele costuma ser descoberto tardiamente, quando as chances de cura já estão bastante reduzidas. O caso do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, que morreu aos 69 anos em decorrência da doença, reacendeu o alerta para os riscos e a importância da prevenção.
No Brasil, o cenário também preocupa. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 11 mil novos casos são esperados anualmente, a maioria entre homens com mais de 50 anos. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o câncer de esôfago pode ser evitado em boa parte dos casos com mudanças simples de hábito.
Cigarro, álcool e má alimentação: os vilões do esôfago
O tipo mais comum de câncer de esôfago no Brasil é o carcinoma espinocelular, associado ao consumo de álcool e tabaco. Esses dois hábitos, isoladamente, já são perigosos. Mas, quando combinados, multiplicam os riscos de forma alarmante.
“A fumaça do cigarro agride diretamente a mucosa do esôfago. Já o álcool, ao ser metabolizado, gera substâncias tóxicas que aumentam o potencial cancerígeno. Juntos, podem elevar em mais de 30 vezes o risco de câncer esofágico”, explica um oncologista.
Além disso, dietas pobres em frutas, verduras e legumes também favorecem o surgimento do câncer. Esses alimentos fornecem antioxidantes, fibras e vitaminas essenciais que ajudam a combater processos inflamatórios e o estresse oxidativo — duas condições ligadas ao desenvolvimento de tumores.
Prevenção: pequenas escolhas, grandes impactos
A boa notícia é que não são necessárias medidas extremas para reduzir os riscos. Parar de fumar, moderar (ou eliminar) o consumo de bebidas alcoólicas e melhorar a alimentação já são passos valiosos na prevenção.
“Mesmo quem fumou ou bebeu por décadas pode se beneficiar ao abandonar esses hábitos. A redução no risco começa logo nos primeiros anos após a mudança e continua ao longo da vida”, reforça o especialista.
Outras atitudes que fazem diferença:
- Incluir mais vegetais crus e frutas frescas na dieta;
- Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados;
- Evitar bebidas muito quentes, que irritam a mucosa do esôfago;
- Controlar o refluxo gastroesofágico, que também pode causar lesões no esôfago a longo prazo.
Tratamento: quanto mais cedo, melhor
O tratamento do câncer de esôfago depende do estágio da doença. Quando detectado precocemente, a cirurgia pode ser curativa — geralmente por meio da esofagectomia, que remove parcial ou totalmente o órgão. Mas o procedimento é complexo e exige recuperação intensiva.
Nos casos avançados, o tratamento envolve quimioterapia e radioterapia, que podem ser usadas antes ou depois da cirurgia — ou isoladamente, quando a cirurgia não é mais viável. Imunoterapia e terapias-alvo também vêm sendo incorporadas aos protocolos, oferecendo mais esperança para pacientes com tumores metastáticos ou resistentes.
Além disso, é comum que os pacientes precisem de suporte para se alimentar, devido às dificuldades de deglutição. Nestes casos, equipes multidisciplinares com nutricionistas, psicólogos e cuidados paliativos são fundamentais para garantir qualidade de vida.
O recado final: prevenir é mais simples do que parece
O câncer de esôfago pode ser devastador, mas não é inevitável. A prevenção está, muitas vezes, no prato, no copo e no cigarro que se decide evitar. É sobre escolhas diárias, sustentáveis e conscientes.
“Trocar o cigarro por uma caminhada, reduzir o álcool e incluir mais vegetais no prato não são mudanças radicais, mas podem representar uma enorme diferença a longo prazo”, conclui o oncologista.