Coração de aço? Brasileiro completa 366 maratonas consecutivas sob olhar da ciência

Reprodução/Instagram/hugofarias366

O brasileiro Hugo Farias não apenas quebrou um recorde mundial ao correr 366 maratonas em 366 dias consecutivos durante o ano de 2023, mas também se tornou objeto de um estudo pioneiro conduzido pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da USP. O objetivo era claro: entender o impacto de um esforço tão extremo e prolongado sobre o sistema cardiovascular.

Hugo, que antes de iniciar este desafio monumental em Americana (SP) tinha um histórico relativamente recente na corrida, tendo completado apenas uma maratona anteriormente, foi motivado pelo desejo de superar limites e inspirar pessoas através do esporte. Sua jornada de mais de 15 mil quilômetros foi acompanhada de perto por uma equipe multidisciplinar, que incluiu cardiologistas, fisioterapeutas, nutricionistas e outros especialistas.

Durante os 366 dias, Hugo foi submetido a uma bateria de exames no InCor, incluindo testes cardiopulmonares de esforço, ecocardiogramas, exames de sangue para marcadores cardíacos (como troponina e CK-MB) e de inflamação (como a proteína C reativa ultrassensível). Os pesquisadores monitoraram de perto sua frequência cardíaca, consumo de oxigênio (VO2máx), função ventricular e outros indicadores da saúde do coração.

Os resultados do acompanhamento foram surpreendentes para muitos. Apesar do desgaste físico extremo, que incluiu a superação de lesões dolorosas, o estudo indicou que o coração de Hugo Farias demonstrou uma notável resiliência. Parâmetros importantes como a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (que mede a capacidade de bombeamento do coração) e o VO2máx mantiveram-se estáveis e dentro de faixas consideradas saudáveis para um atleta de endurance. Não foram detectadas sequelas cardíacas ou danos significativos ao músculo cardíaco ao final do desafio. “Ver que não teve nenhuma sequela foi importantíssimo”, declarou Hugo em entrevistas.

Apesar do caso de Hugo Farias demonstrar uma capacidade de adaptação impressionante, especialistas como o cardiologista Filippo Savioli, do InCor, alertam enfaticamente que tal feito não deve ser replicado sem um planejamento minucioso, adaptação progressiva e, crucialmente, um acompanhamento médico rigoroso. Os riscos de arritmias, inflamações cardíacas, lesões graves e até morte súbita são consideráveis em atividades de ultra insistência realizadas sem o devido preparo e supervisão.

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