Injeção semestral contra o HIV é aprovada nos EUA e marca nova era na prevenção

Reprodução: Foto/freepik

Um novo passo na luta contra o HIV foi dado esta semana com a aprovação, pela agência reguladora dos Estados Unidos (FDA), de uma injeção semestral para a prevenção da infecção. Batizado de Yeztugo, o medicamento desenvolvido pela farmacêutica Gilead Sciences promete revolucionar a prevenção ao oferecer proteção de até 99,9% com apenas duas aplicações por ano.

A substância ativa do remédio, o lenacapavir, atua como um inibidor do capsídeo — uma estrutura essencial para o funcionamento e a multiplicação do vírus no organismo. Sem essa “armadura”, o HIV perde força e não consegue se replicar de forma eficaz.

Entenda a diferença entre HIV e aids

O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) compromete o sistema imunológico, mas nem todo portador desenvolve a aids, que é o estágio mais avançado da infecção. Com o uso correto de antirretrovirais, é possível manter o HIV sob controle, alcançar a carga viral indetectável e impedir a transmissão do vírus.

A transmissão acontece principalmente por via sexual sem proteção, uso compartilhado de seringas ou de mãe para filho durante o parto, sem acompanhamento médico adequado. Contatos como beijo, suor ou relações sexuais com preservativo não transmitem o vírus.

No Brasil, o SUS oferece testes rápidos e gratuitos, além da PrEP oral (profilaxia pré-exposição), um comprimido diário que impede a infecção em caso de exposição ao HIV.

Alternativa promissora à PrEP diária

A nova injeção semestral é voltada para adolescentes e adultos sexualmente ativos e surge como uma alternativa mais prática à PrEP oral, que exige disciplina para uso diário. Segundo especialistas, o novo formato pode quebrar barreiras de adesão ao tratamento e reduzir o estigma associado ao uso contínuo de comprimidos.

Dois estudos clínicos de grande porte sustentam os resultados otimistas: um com mulheres na África Subsaariana e outro com homens e pessoas de gênero diverso em várias partes do mundo. Em ambos, a taxa de prevenção chegou a quase 100% com o uso do lenacapavir.

Enquanto o comprimido Truvada, amplamente usado na PrEP, apresentou eficácia média de 95%, a nova injeção reduziu o risco de infecção em até 50 vezes em relação à média da população geral. Apenas duas pessoas que tomaram o lenacapavir se infectaram, contra nove no grupo que utilizou a PrEP oral.

Não é vacina, nem cura

Apesar da alta eficácia, é importante esclarecer: o Yeztugo não é uma vacina e não cura o HIV. Ele atua como um antirretroviral preventivo, semelhante à PrEP oral, mas com posologia semestral. Estudos indicam que uma única dose anual pode ser eficaz, mas esse protocolo ainda está em fase de testes.

Preço elevado pode ser barreira

O principal obstáculo à adoção em larga escala é o custo. Estima-se que o tratamento anual com duas doses do lenacapavir nos EUA chegue a US$ 25 mil (cerca de R$ 137 mil). Para comparação, especialistas estimam que o custo de produção por dose seria de apenas US$ 25, o que reforça os apelos por uma política de acesso mais justa.

Para tentar contornar o problema, a Gilead firmou acordos com seis laboratórios para produzir versões genéricas destinadas a 120 países de baixa e média renda. No entanto, essas versões ainda aguardam aprovação dos órgãos reguladores e podem demorar para chegar ao mercado.

Participação brasileira e próximos passos

O Brasil participou dos testes clínicos por meio do Centro de Referência e Treinamento em IST/Aids, em São Paulo. Os estudos contaram com voluntários também em países da América do Sul, África e Ásia, em regiões com incidência média de HIV de 2,3%.

Os resultados por aqui também impressionaram: a taxa de infecção foi de 0,04% entre os que receberam a injeção, contra 0,11% entre os usuários da PrEP oral. Os efeitos colaterais mais comuns foram leves, como dor no local da aplicação, dor de cabeça e náusea.

Apesar dos avanços, ainda não há previsão de liberação do uso do lenacapavir pela Anvisa para prevenção ou tratamento. Em dezembro de 2024, o Ministério da Saúde defendeu, em reunião internacional, a criação de uma aliança global para acelerar o acesso ao medicamento.

“O alto custo é um desafio, especialmente para países em desenvolvimento. Por isso, reforçamos a necessidade de cooperação internacional para garantir o acesso ao lenacapavir”, afirmou o diretor do Departamento de HIV, Aids e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério.

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