Quando tinha apenas 6 anos, Fábio recebeu o diagnóstico de um tipo raro e agressivo de câncer: o rabdomiossarcoma, que afeta os músculos e é mais comum em crianças. A doença avançou rapidamente e atingiu a mandíbula, exigindo a remoção de mais da metade do osso.
Tudo começou com uma dor insistente na mandíbula, que Fábio e a família acreditavam ser um simples problema dentário. Após um sangramento anormal durante um procedimento, a dentista recomendou investigação médica. O pediatra pediu uma biópsia, e o diagnóstico veio logo depois.
“Lembro da dor da biópsia como se fosse hoje. Foi insuportável, cheguei a vomitar”, relembra.
Para conter o avanço da doença, os médicos precisaram fazer a retirada parcial da mandíbula, seguida de sessões intensas de quimioterapia e radioterapia. Fábio foi considerado curado, mas ficou com sequelas funcionais e estéticas que impactaram profundamente sua vida.
Os desafios após o tratamento
A ausência da mandíbula afetou desde cedo a fala, a alimentação e a autoestima. Com o passar dos anos, as dificuldades se tornaram ainda mais evidentes.
“Tive que aprender a comer de um lado só da boca. Nunca fiz fisioterapia, fui me adaptando sozinho”, conta.
Durante a infância e adolescência, Fábio enfrentou olhares de julgamento e piadas cruéis. Para tentar esconder o lado do rosto afetado, usava capuzes e deixou o cabelo crescer. A autoestima foi profundamente abalada.
“Evitei ter vida social. Na escola, caminhava olhando para o chão para não ver as pessoas rindo.”
Aos 12 anos, Fábio passou por sua primeira tentativa de reconstrução da mandíbula, usando um osso da perna. Mas a cirurgia falhou por causa de uma infecção. Uma nova tentativa foi feita um ano depois e teve sucesso, mas com o tempo, o crescimento natural do rosto causou desalinhamento da estrutura.
Mesmo com apoio da família e de médicos, ele conta que o processo de aceitação foi longo e difícil.
Reconstrução: uma nova esperança
Com dificuldades alimentares e funcionais cada vez mais severas, Fábio seguiu buscando alternativas. Comer exige esforço constante, e a mastigação lenta o fazia engasgar com frequência.
“Quando trabalhava presencialmente, quase não conseguia almoçar. Tinha vergonha de comer perto dos outros. Acabava recorrendo a sanduíches, porque eram mais fáceis de engolir.”
Como o custo de uma nova cirurgia é alto — acima de R$ 100 mil —, ele lançou uma vaquinha virtual em 2022. A meta não foi alcançada, mas a história de Fábio chamou a atenção do cirurgião bucomaxilofacial Magno Liberato, que decidiu ajudá-lo.
A cirurgia será de alta complexidade e reunirá oito especialidades médicas. O plano envolve a aplicação de uma prótese de titânio feita em impressora 3D, enxertos ósseos e musculares, além da instalação futura de implantes dentários.
“O maior desafio é reconstruir uma área já operada e sensível, com tecidos frágeis e vascularização comprometida. Mas estamos planejando tudo com muita cautela”, explica o médico.
A expectativa é de que, além de uma melhora estética, Fábio também tenha ganhos importantes na fala, respiração e alimentação.
“Não espero ficar com um rosto comum, mas sei que vai melhorar muito. Quero poder tirar uma foto sem esconder o lado esquerdo”, diz, com esperança.
O poder de contar sua história
A trajetória de Fábio ganhou força nas redes sociais. Produzindo conteúdo e compartilhando sua experiência, ele passou a receber mensagens de apoio que o ajudaram a enxergar sua própria história com mais compaixão.
“Antes, meu rosto era só lembrança do que sofri. Hoje, com tantas mensagens de carinho, entendi que minha história pode inspirar outras pessoas.”
Fonte: Metrópoles