Uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu um biossensor portátil, sustentável e de baixo custo, capaz de detectar o vírus da covid-19 com 95% de precisão. O dispositivo inovador foi produzido com materiais recicláveis, como grafite de baterias usadas e plástico de copos descartáveis, e não exige laboratórios ou infraestrutura especializada para operar — basta uma amostra de saliva e o resultado sai em poucos minutos.
O sensor é uma plataforma eletroquímica-magnética portátil, que capta sinais biológicos por meio de nanopartículas magnéticas funcionalizadas com anticorpos. Esses anticorpos reconhecem e se ligam a biomarcadores do vírus SARS-CoV-2, gerando um sinal eletroquímico interpretado por um leitor portátil.
O custo por unidade do dispositivo é de apenas 20 centavos de dólar, uma fração do valor de testes tradicionais como o RT-PCR, considerado o padrão-ouro no diagnóstico da doença.
Diagnóstico molecular de baixo custo com impacto global
A pesquisa foi conduzida no âmbito do projeto “Rumo à convergência de tecnologias: de sensores e biossensores à visualização de informação e aprendizado de máquina para análise de dados em diagnóstico clínico”, coordenado pelo professor Osvaldo Novais de Oliveira Junior, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), com apoio da Fapesp. O artigo que detalha a inovação foi publicado na revista científica ACS Sensors.
Além do IFSC, o projeto contou com participação ativa do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) e colaboração de instituições nacionais e internacionais, como a Faculdade de Medicina da USP, a Universidade Federal do Piauí (UFPI), a Universidade do Minho (Portugal) e o centro de pesquisa BCMaterials (Espanha).
“Queremos democratizar o acesso a diagnósticos de qualidade com soluções sustentáveis e de baixo custo”, destaca o professor Frank Crespilho, do IQSC, coordenador do desenvolvimento tecnológico e autor correspondente do artigo. Crespilho também liderou a Rede de Pesquisa em Metabolômica e Diagnóstico da Covid-19 (MeDiCo USP/Capes).
Mais que covid: uma plataforma universal e adaptável
Embora tenha sido desenvolvido inicialmente para detecção da covid-19, o biossensor é descrito como uma plataforma universal, passível de adaptação para diagnóstico de outros vírus respiratórios, como influenza, e de doenças infecciosas emergentes.
“Foi um projeto longo, que reuniu cientistas de diferentes áreas. O resultado foi uma inovação sem precedentes na literatura científica”, afirma Oliveira Junior.
Além da precisão semelhante ao RT-PCR, os testes foram validados em amostras reais de saliva de pacientes de diferentes faixas etárias e gêneros, demonstrando a eficácia clínica do dispositivo.
Inovação com responsabilidade ambiental e social
Mais do que uma resposta tecnológica à pandemia, o biossensor representa um novo paradigma em diagnóstico molecular acessível. Ao reaproveitar resíduos tecnológicos e reduzir custos, a plataforma oferece soluções viáveis para populações vulneráveis e regiões com baixa infraestrutura de saúde.
A iniciativa integra ciência de materiais, engenharia, biotecnologia e sustentabilidade, com potencial para transformar o acesso a diagnósticos em escala global.