Com mais de 30 mil transplantes realizados só em 2024, o Brasil não apenas bateu recorde no número de procedimentos pelo SUS, como também deu importantes passos para modernizar e agilizar o Sistema Nacional de Transplantes. As novidades foram apresentadas nesta quarta-feira (04/06) pelo Ministério da Saúde, em Brasília.
De acordo com os dados oficiais, o número de transplantes cresceu 18% em comparação a 2022. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, celebrou a conquista e destacou a importância do trabalho conjunto entre profissionais da saúde, secretarias estaduais e municipais, além das equipes do SAMU. “Esse recorde reafirma o protagonismo do Brasil como o país que mais realiza transplantes em sistema público no mundo”, afirmou.
Novas tecnologias e reorganização regional prometem mais agilidade
Entre as medidas anunciadas está a implementação da Prova Cruzada Virtual na rede pública. A tecnologia, que deverá ser oficialmente incorporada em setembro, vai permitir a triagem mais rápida e segura entre doadores e receptores, reduzindo o risco de rejeição dos órgãos e acelerando o processo entre a doação e a cirurgia.
Além disso, o governo planeja reorganizar a distribuição de órgãos entre os estados, priorizando a alocação dentro da mesma região geográfica. A ideia é tornar o processo mais ágil e condizente com a realidade atual da malha aérea e da infraestrutura hospitalar do país — bem diferente de quando a regra anterior foi criada, em 1997.
Procedimentos inéditos e ampliação de acesso
Outra novidade significativa é a oferta, pela primeira vez no SUS, dos transplantes de intestino delgado e multivisceral, voltados para pacientes com falência intestinal irreversível. A iniciativa já começou a ser implantada em cinco hospitais, localizados em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Antes do transplante, o SUS também investirá na reabilitação desses pacientes. Para isso, o Ministério da Saúde aumentou em 400% a diária dos tratamentos voltados para essa condição, com o objetivo de estimular a adesão de novos centros ao programa de cuidados.
Mais acolhimento para aumentar as doações
Outro desafio enfrentado pelo sistema é o alto índice de recusas familiares. Em 2024, 45% das famílias entrevistadas não autorizaram a doação de órgãos. Para reverter esse cenário, será lançado o Programa Nacional de Qualidade em Doação para Transplantes (ProDOT), que visa capacitar as equipes de saúde para abordagens mais humanizadas junto às famílias de potenciais doadores.
A coordenadora nacional de Transplantes, Patrícia Freire, resumiu a meta: “Queremos mudar a forma como o país enxerga a doação de órgãos. O aumento no número de transplantes passa, necessariamente, pelo aumento no número de doadores”.
Avanços no tratamento de queimaduras com membrana amniótica
Outra medida anunciada foi a incorporação do uso de membrana amniótica como curativo para queimaduras, que deve começar a ser oferecida em breve pelo SUS. Estudos mostram que essa técnica acelera a cicatrização, reduz a dor e diminui a incidência de infecções, tornando o tratamento mais eficaz e humanizado.
A próxima etapa é avaliar o uso da mesma membrana para o tratamento de lesões oculares, proposta que está em análise pela Conitec e pode ser aprovada ainda neste ano.
Reajuste em procedimentos amplia capacidade de atendimento
O governo também anunciou reajustes em valores de procedimentos essenciais, como os relacionados ao transplante de córneas. A retirada do globo ocular, o líquido de preservação e a sorologia de doadores tiveram aumento de, no mínimo, 50% nas remunerações. O objetivo é fortalecer os bancos de olhos e ampliar a disponibilidade de tecidos para transplante.
Hoje, mais de 85% dos transplantes realizados no país são financiados pelo SUS, que também garante, de forma gratuita, os medicamentos imunossupressores necessários para a manutenção da saúde dos pacientes transplantados ao longo da vida.
Fila de espera ainda é desafio
Apesar dos avanços, cerca de 78 mil pessoas ainda aguardam na fila por um órgão. Os órgãos mais solicitados são rim, córnea e fígado — justamente os que lideram também a lista dos mais transplantados em 2024.