O Ministério da Saúde deu um passo importante na luta contra a brucelose humana ao lançar, nesta última segunda-feira (26/05), um novo protocolo clínico para orientar profissionais de saúde em todo o país. A publicação do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) marca um momento histórico no enfrentamento da doença, especialmente por oferecer, pela primeira vez, uma diretriz nacional baseada em evidências científicas para diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos casos.
A iniciativa coloca o Brasil em posição de destaque internacional no combate à brucelose, uma zoonose negligenciada que atinge principalmente trabalhadores rurais, como agricultores, veterinários e profissionais de frigoríficos. Até então, a última diretriz global sobre o tema havia sido publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2006, evidenciando a lacuna existente na condução clínica da doença em âmbito mundial.
Com o novo protocolo, o Sistema Único de Saúde (SUS) ganha uma ferramenta importante para identificar precocemente a doença, administrar a terapia correta e monitorar os pacientes de forma eficaz. Entre os pontos abordados estão o uso adequado de antibióticos, o tempo ideal de tratamento e medidas para evitar a resistência bacteriana — um problema crescente na medicina moderna.
Construção coletiva e respaldo técnico
O documento foi desenvolvido com a participação de especialistas da área da saúde, instituições de pesquisa e representantes da sociedade civil. Após sua elaboração, passou pela análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), que recomendou sua aprovação. A Portaria SECTICS/MS nº 22/2025 oficializou a publicação no Diário Oficial da União.
A brucelose humana é uma infecção causada por bactérias do gênero Brucella e pode ser transmitida ao ser humano principalmente por contato com animais infectados ou pela ingestão de produtos de origem animal não pasteurizados. Os sintomas mais comuns são febre persistente, dores musculares, fadiga intensa e suores noturnos, o que pode levar à confusão com outras doenças e dificultar o diagnóstico.
Do campo ao SUS: um desafio silencioso
Apesar de afetar a saúde pública, a brucelose humana ainda não é de notificação compulsória no Brasil, o que contribui para a subnotificação dos casos. Entre 2024 e março de 2025, o SUS registrou 118 atendimentos relacionados à doença, sendo 80 em ambulatórios e 38 hospitalizações.
O tratamento costuma começar na Atenção Primária à Saúde (APS), onde equipes multidisciplinares realizam a triagem clínica, solicitam exames laboratoriais e conduzem o tratamento dos pacientes e seus contatos próximos. Além disso, os profissionais da APS atuam na prevenção, orientando sobre o uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e promovendo o consumo seguro de alimentos de origem animal.
Referência internacional e compromisso com a saúde rural
Ao oficializar um protocolo clínico próprio, o Brasil não apenas amplia sua capacidade de resposta à brucelose, como também assume protagonismo global no enfrentamento de uma doença historicamente esquecida. A medida fortalece a vigilância epidemiológica, melhora o cuidado com populações vulneráveis e reforça o compromisso do país com a saúde pública, especialmente em áreas rurais onde o contato com animais é constante.