Em 2020, Everton Carvalho, um empresário de Americana (SP), aos 25 anos, descobriu um
caroço na virilha que, inicialmente, todos acreditaram ser uma hérnia causada por esforço
físico. O caroço, com tamanho e aspecto de uma bola de pingue-pongue, surgiu enquanto
Everton organizava os equipamentos de sua academia que estava prestes a inaugurar. No
entanto, o que parecia ser uma hérnia era, na verdade, um câncer raro e de difícil
diagnóstico.
Diagnóstico atrasado devido à raridade do câncer:
Após uma semana com o caroço intacto, Everton começou a procurar médicos. Todos os
especialistas apontaram para a hipótese de hérnia, e o empresário não teve suspeitas de
algo mais sério. Após seis meses, decidiu realizar uma cirurgia para retirar o inchaço. Foi só
na sala de cirurgia que os médicos descobriram que o caroço era, na verdade, um tumor
maligno encapsulado.
Primeira e segunda cirurgias:
Descobrir o tipo de câncer também não foi fácil. As amostras do tumor passaram por três
laboratórios, mas o diagnóstico continuava incerto. Quando o tumor foi identificado como
maligno, os exames mostraram que Everton não apresentava mais sinais da doença. Os
médicos então acreditaram que ele estava curado, sem necessidade de tratamentos
adicionais. Porém, menos de um ano depois, o câncer retornou, desta vez com metástases
nos linfonodos, originados do tumor inicial.
Na segunda cirurgia, os médicos descobriram que o câncer já havia se espalhado por todo
o abdômen de Everton.
Sarcoma raro: o tipo de câncer
O câncer de Everton foi diagnosticado como um tumor desmoplásico de pequenas células,
um tipo raro de sarcoma. Sarcomas são tumores malignos que podem ter mais de 100
subtipos, geralmente relacionados a condições genéticas ou exposição a materiais tóxicos.
Everton, no entanto, não estava exposto a fatores de risco típicos.
O oncologista Rodrigo Munhoz, do Hospital Sírio-Libanês, explicou que sarcomas, como o
de Everton, são difíceis de diagnosticar devido à baixa incidência de casos e à falta de
sintomas até que o câncer esteja em estágios mais avançados. O diagnóstico exige
análises moleculares complexas e especialistas em patologia.
Exercício físico e força mental no tratamento:
Após o diagnóstico definitivo, Everton iniciou um tratamento intenso. Com a
poliquimioterapia, um ciclo de cinco meses de quimioterapia, conseguiu reduzir os tumores
em 80%. Mesmo com os efeitos adversos da quimioterapia, ele manteve-se firme nos
exercícios físicos e na alimentação equilibrada, acreditando que isso o ajudaria a suportar o
tratamento.
Após a quimioterapia, Everton passou por uma cirurgia chamada citorredução, um
procedimento complexo de lavagem química do abdômen para remover tumores visíveis.
Ele também seguiu com mais cinco meses de quimioterapia e 30 sessões de radioterapia,
que exigiram uma recuperação física intensa. “Meu cabelo caiu, fiquei inchado, e minhas
plaquetas praticamente zeraram. Mas a perseverança foi crucial”, disse Everton.
Superação e cura após dois anos:
Hoje, mais de três anos após o diagnóstico e tratamento, Everton está em remissão e segue
em acompanhamento médico regular, com consultas a cada seis meses. Para ele, o câncer
teve um impacto transformador em sua vida, o ensinando a valorizar até as pequenas
coisas. “Foi o melhor ano da minha vida, apesar de tudo. Meu filho nasceu, meus negócios
prosperaram, e o câncer me ajudou a crescer como pessoa”, conclui Everton.