O câncer, historicamente associado ao envelhecimento, vem se tornando cada vez mais frequente entre os jovens. Dados recentes mostram que essa tendência preocupa profissionais de saúde em todo o mundo. De 2012 a 2022, o número de novos casos de câncer entre pessoas de 20 a 39 anos cresceu 26% globalmente, com destaque para os tumores de mama, tireoide e colo do útero.
As informações foram reunidas em artigo publicado na plataforma The Conversation, assinado pelos oncologistas Antônio Carlos Buzaid, diretor médico da Beneficência Portuguesa de São Paulo e cofundador do Instituto Vencer o Câncer, e Jéssica Ribeiro Gomes, consultora do Manual de Oncologia Clínica do Brasil.
Segundo o levantamento, nas últimas três décadas houve um crescimento de 79% nos diagnósticos de câncer em pessoas com menos de 50 anos. Em países como os Estados Unidos, o câncer de intestino já é a principal causa de morte por câncer em homens com menos de 50 anos. Outros tipos, como os tumores de intestino delgado, vesícula biliar e sarcoma de Kaposi, também estão em ascensão.
No Brasil, o cenário não é diferente. Um estudo do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) mostrou que a proporção de mulheres com menos de 40 anos diagnosticadas com câncer de mama saltou de 8% em 2009 para 22% em 2020.
Mais agressivo, mais tarde diagnosticado
Um dos desafios é que, em pacientes mais jovens, o câncer costuma ser mais agressivo e diagnosticado tardiamente. No caso do câncer de mama, por exemplo, mulheres mais jovens têm maior probabilidade de desenvolver subtipos mais graves, como o triplo-negativo, que apresenta maior risco de recorrência e disseminação para outros órgãos.
Além disso, o fato de estarem fora da faixa etária recomendada para exames de rastreio — como a mamografia — dificulta o diagnóstico precoce. Soma-se a isso a menor conscientização entre jovens sobre o risco de câncer, e o fato de que mamas mais densas dificultam a detecção por exames de imagem.
Impactos físicos e emocionais
O diagnóstico precoce de câncer também impõe desafios físicos, emocionais e sociais. Jovens enfrentam impactos profundos na autoestima, relacionamentos, saúde mental e sexualidade. Há também os efeitos adversos de tratamentos que podem comprometer a fertilidade, causar menopausa precoce e afetar o desempenho profissional ou acadêmico.
Estilo de vida tem papel determinante
Embora fatores genéticos tenham importância, os autores do artigo alertam: mais de 80% dos casos de câncer em jovens não têm origem hereditária. O principal vilão está nos hábitos de vida não saudáveis.
Dieta rica em açúcares, farinhas refinadas, ultraprocessados e carnes vermelhas induz um quadro de inflamação crônica no organismo, o que favorece o surgimento de células cancerígenas. Obesidade, tabagismo, alcoolismo e sedentarismo também aumentam o risco da doença. A obesidade, por exemplo, além de inflamar o organismo, causa desequilíbrios hormonais que favorecem o desenvolvimento de tumores.
Em contrapartida, a atividade física regular pode reduzir em até 40% o risco de alguns tipos de câncer.
O que pode ser feito
Entre as estratégias para conter essa tendência estão:
- Revisão das diretrizes de rastreamento, como a colonoscopia, agora indicada a partir dos 45 anos;
- Uso de tecnologias, como inteligência artificial em mamografias, para melhorar o diagnóstico em mamas densas;
- Campanhas de conscientização voltadas a jovens, reforçando a importância da prevenção e atenção aos sintomas;
- Adoção de hábitos saudáveis desde cedo: alimentação balanceada, prática de exercícios, sono de qualidade e abandono de vícios.
“O aumento do câncer em jovens é uma realidade que exige a nossa atenção. Mas não somos impotentes diante dela”, afirmam os autores. “A adoção de hábitos saudáveis é uma ferramenta poderosa na prevenção da doença.”