Apesar de mais de 30 milhões de brasileiras estarem vivenciando o climatério ou a menopausa, segundo dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo, 2024), grande parte ainda enfrenta obstáculos para identificar essa fase e receber o acompanhamento adequado.
Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam pouco mais de 238 mil diagnósticos relacionados ao climatério — um número que evidencia a invisibilidade dessa etapa na saúde pública. A desinformação pode agravar sintomas físicos e emocionais que já são bastante desafiadores.
Transição hormonal e início precoce de sintomas
Segundo especialistas, a menopausa natural costuma ocorrer por volta dos 51 anos no Brasil. No entanto, os sinais do climatério podem começar até uma década antes. Essa fase é marcada por instabilidade hormonal que pode perdurar por anos, afetando não só o corpo, mas também o equilíbrio emocional das mulheres. Um dos sintomas mais comuns nesse período é o ganho de peso.
Por que o peso aumenta no climatério?
De acordo com especialistas, a queda nos níveis de estrogênio provoca mudanças como a redistribuição da gordura corporal — que passa a se concentrar na região abdominal —, aumentando o risco de doenças cardiovasculares. Também há maior tendência à resistência à insulina, favorecendo o acúmulo de gordura visceral. Paralelamente, ocorre perda de massa muscular (sarcopenia), que desacelera o metabolismo e contribui para o aumento de peso, mesmo sem alterações na alimentação.
Distúrbios do sono, como insônia e suores noturnos, também elevam os níveis de cortisol, o que potencializa o acúmulo de gordura. Dados internacionais mostram que mais de 65% das mulheres entre 40 e 59 anos têm obesidade abdominal, número que sobe para quase 74% após os 60 anos.
Mais de 40 sintomas possíveis
Embora os fogachos, as alterações de humor e a irregularidade menstrual sejam os sintomas mais conhecidos, especialistas alertam que existem mais de 40 manifestações possíveis durante o climatério. Entre elas: cansaço extremo, elevação do colesterol, dificuldade de concentração (conhecida como “névoa mental”), incontinência urinária, alterações na pele e cabelo, além da já mencionada mudança na distribuição da gordura corporal.
Também são comuns distúrbios do sono, secura vaginal (que pode dificultar as relações sexuais), alterações menstruais e aumento do risco de osteoporose.
Segundo especialistas, muitas mulheres chegam a essa fase sem qualquer tipo de orientação prévia, o que compromete sua qualidade de vida. O preconceito e a falta de preparo, inclusive por parte de profissionais da saúde, ainda são obstáculos frequentes.
Climatério e vida profissional: impactos econômicos e sociais
Pesquisas apontam que 47% das mulheres relatam queda de produtividade no trabalho em função dos sintomas do climatério. Só nos Estados Unidos, o impacto econômico da menopausa ultrapassa os US$ 26 bilhões (aproximadamente R$ 150 bilhões), segundo estudo da Mayo Clinic. Parte desse prejuízo se refere à perda de produtividade e ao absenteísmo.
Especialistas relatam que sintomas como oscilações de humor, insônia e fadiga mental podem comprometer significativamente o desempenho diário. Muitas mulheres relatam sentir que “o cérebro está fritando” durante os episódios de calor intenso e que enfrentam sentimentos de tristeza, irritabilidade e exaustão constante.
Além das questões físicas, há também um impacto psicológico profundo, relacionado à percepção do envelhecimento e à perda da fertilidade. Segundo especialistas, ainda há pouco acolhimento social e compreensão, inclusive no ambiente doméstico e profissional.
Participar de grupos voltados para o acompanhamento nutricional na menopausa, segundo relatos de especialistas, pode ser uma alternativa eficaz. A troca de experiências e o acompanhamento técnico especializado são apontados como fundamentais para melhorar o bem-estar e reduzir a sensação de isolamento.
Alimentação como ferramenta de cuidado
De acordo com especialistas, a nutrição pode ser uma grande aliada na redução dos sintomas e na manutenção do equilíbrio corporal. Três recomendações principais são frequentemente destacadas:
- Incluir fitoestrógenos: Alimentos como soja, linhaça e gergelim ajudam a amenizar sintomas hormonais. Estudos indicam que o consumo regular desses alimentos está associado à redução dos fogachos e à melhora do perfil lipídico.
- Investir em cálcio e vitamina D: Essenciais para a saúde óssea, esses nutrientes podem ser obtidos por meio de laticínios, vegetais verde-escuros e exposição moderada ao sol.
- Manter hidratação e dieta anti-inflamatória: A ingestão adequada de água e alimentos ricos em gorduras saudáveis — como azeite de oliva, peixes, castanhas e frutas vermelhas — contribui para combater inflamações e aliviar sintomas.
Alterações hormonais afetam todo o organismo
Especialistas destacam que a queda dos hormônios sexuais afeta praticamente todos os sistemas do corpo. O estrogênio e a progesterona, além de regularem a fertilidade, influenciam o metabolismo, a saúde cardiovascular, o sistema cognitivo e o emocional.
A desregulação do hipotálamo, causada pela queda do estrogênio, é responsável pelos fogachos. A menor produção de serotonina e dopamina, por sua vez, está ligada à ansiedade, depressão e alterações de humor.
Outros efeitos incluem ressecamento da pele e mucosas, elevação do colesterol LDL, redução do HDL, maior risco de osteoporose e alterações cognitivas — como lapsos de memória e dificuldade de concentração. O sistema urinário também é afetado, aumentando a probabilidade de incontinência.



