Simples, acessível e pouco invasivo, o teste de sangue oculto nas fezes tem se mostrado uma ferramenta importante para a detecção precoce do câncer colorretal, também conhecido como câncer de intestino. A doença é uma das que mais atinge brasileiros — a terceira mais frequente entre homens e mulheres — e, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 46 mil novos casos são registrados por ano no país.
Embora a maioria dos diagnósticos ocorra em pessoas com mais de 60 anos, especialistas têm alertado para o crescimento expressivo da doença entre adultos mais jovens. O problema é que o câncer colorretal costuma se desenvolver de forma silenciosa e progressiva, o que dificulta o diagnóstico precoce. Ainda assim, quando descoberto no início, as chances de cura são altas.
De acordo com estimativas da Fundação do Câncer, o número de casos pode aumentar em até 21% até 2040. Um dos grandes desafios da saúde pública é justamente ampliar o rastreamento e o diagnóstico precoce. Hoje, o Inca recomenda iniciar os exames a partir dos 50 anos, mas a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) já sugere que esse monitoramento comece aos 45 anos, mesmo para pessoas sem sintomas aparentes.
Uma das opções mais viáveis nesse contexto é o exame de sangue oculto nas fezes, que identifica a presença de pequenas quantidades de sangue não visíveis a olho nu. “É um exame simples, mas extremamente valioso para indicar a necessidade de uma colonoscopia, que é o exame mais preciso para confirmar ou descartar a presença de tumores”, explica um especialista da SBCP.
Mutirão em Goiás mostra impacto do rastreamento
Durante a campanha “Março Azul”, voltada à prevenção do câncer de intestino, um mutirão realizado na cidade de Goiás (GO) demonstrou na prática o impacto do rastreamento ativo. A iniciativa, organizada pela SBCP em parceria com a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), distribuiu 8 mil kits de teste de sangue oculto em fezes para pessoas entre 45 e 70 anos.
Cerca de 2.500 exames foram realizados. Entre esses, 8% apresentaram resultado positivo. Com isso, 563 pessoas foram encaminhadas para colonoscopia. Ao todo, 423 colonoscopias foram realizadas, considerando também pacientes que já aguardavam o exame pelo SUS. O resultado: 462 lesões (pólipos) detectadas em 231 pessoas — ou seja, mais da metade dos que fizeram o exame. E, mais importante, quatro casos de câncer já em estágio avançado foram identificados.
Segundo o coloproctologista Helio Moreira, diretor da SBCP e coordenador do mutirão, o rastreamento pode prevenir a maioria dos casos. “O câncer de intestino é uma das poucas formas de câncer que pode ser evitada antes mesmo de se manifestar, ao identificar e remover pólipos com potencial maligno”, afirma. Ele destaca que cerca de 15% dos pólipos adenomatosos podem evoluir para câncer se não forem retirados.
Limites e importância da prevenção
Apesar de ser útil, o teste de sangue oculto tem limitações. Sua sensibilidade é moderada, em torno de 60% — o que significa que ele pode não detectar todos os casos em estágio inicial. Por isso, deve ser usado como ferramenta de triagem e não como exame diagnóstico definitivo.
Além da realização dos exames, os especialistas reforçam que a prevenção também depende de mudanças no estilo de vida. Alimentação rica em fibras, prática regular de atividade física, controle do consumo de álcool e redução de alimentos ultraprocessados e embutidos são medidas que ajudam a reduzir o risco da doença.
“A informação ainda é a melhor forma de prevenção. Precisamos ir além da mudança de hábitos: é fundamental conscientizar a população sobre a importância de rastrear e agir antes que o câncer se manifeste”, conclui o especialista.