O curta-metragem Corpo Negro, lançado na última terça-feira (01/04) no Cinema Estação, localizado no Shopping da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, chama atenção para os desafios enfrentados por pessoas negras no sistema de saúde. Com uma exibição seguida de uma mesa redonda, o filme propõe uma reflexão sobre as barreiras e discriminação que ainda afetam pacientes negros, abordando questões como diagnóstico tardio, erros médicos e o acesso limitado a exames. Disponível para visualização online, Corpo Negro narra a trajetória de um homem que enfrenta a indiferença e o descaso de profissionais da saúde.
Dirigido por Nany Oliveira, o filme integra o projeto Mediversidade, uma iniciativa dos braços sociais dos grupos educacionais Idomed e Yduqs. O projeto visa promover um ensino mais inclusivo e diverso, com o compromisso de adotar medidas afirmativas em instituições de ensino superior vinculadas aos dois grupos, como Estácio, Ibmec, Damásio, Faculdade de Medicina de Açailândia (Fameac) e Faculdade Pan Amazônica (Fapan).
Pesquisas científicas já evidenciam as desigualdades no atendimento médico. Um estudo realizado em 2018 pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) revelou que mulheres negras e pardas têm duas vezes mais chances de receber um diagnóstico tardio de câncer de mama em comparação às mulheres brancas. Os resultados foram publicados na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia.
Outro levantamento de 2023 apontou que pacientes negros têm mais probabilidade de serem internados devido a erro médico em quase todas as regiões do Brasil, com exceção do Sul. A pesquisa, realizada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) e pelo Instituto Çarê, analisou dados de 66.496 internações entre 2010 e 2021. Constatou-se que a probabilidade de erro médico envolvendo pessoas negras é 65,2% maior no Sudeste e 585,3% maior no Nordeste.
Em 2023, também, uma pesquisa do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que a mortalidade materna entre mulheres negras é mais que o dobro da registrada entre mulheres brancas. O estudo analisou os óbitos relacionados à gestação, parto e puerpério ocorridos em 2022.
Nos Estados Unidos, dados semelhantes foram encontrados. Em um estudo realizado pelo Centro Médico de Boston, verificou-se que pacientes negros receberam o diagnóstico de Alzheimer, em média, aos 72,5 anos, enquanto a média para os brancos foi de 67,8 anos. Além disso, a taxa de realização de ressonâncias magnéticas para confirmar o diagnóstico era muito menor entre pacientes negros. Os pesquisadores concluíram que esses dados indicam um atraso no diagnóstico de doenças cognitivas em pacientes negros, além da falta de encaminhamentos adequados para exames.
O curta Corpo Negro também traz informações sobre a diferença no tempo das consultas médicas, com atendimentos mais rápidos para pacientes brancos. O filme ainda destaca a contradição de que, enquanto os corpos negros são mais frequentemente doados para estudos em cursos de Medicina, os profissionais da saúde negros são em número reduzido. De acordo com o Censo 2022 do IBGE, 75,5% dos graduados em Medicina se declararam brancos, enquanto apenas 2,8% eram negros.
O projeto Mediversidade visa enfrentar essas desigualdades. Entre as ações planejadas, estão a criação de cursos gratuitos de letramento étnico-racial para docentes, discentes e profissionais formados, o aumento de 35% no número de vagas afirmativas no processo seletivo para contratação de professores, a revisão da grade curricular dos cursos de Medicina para torná-los mais inclusivos, a priorização de pesquisas científicas focadas na diversidade, a concessão de bolsas integrais para estudantes negros e pardos, e a utilização de manequins negros nas aulas práticas e simulados.
Fonte: Agência Brasil
