Grupo de risco: vacinas essenciais para pessoas com diabetes

Reprodução: liberatori/pixabay

Pessoas com diabetes enfrentam um risco significativamente maior de complicações graves devido a infecções, tornando a vacinação em dia uma estratégia crucial para a prevenção de quadros severos. A resistência à insulina e os níveis elevados de glicose no sangue comprometem a resposta imunológica do organismo, já que as células de defesa (glóbulos brancos) se tornam menos eficazes quando o açúcar no sangue está descontrolado.

“As infecções também podem levar a uma piora da glicemia por conta da produção de proteínas inflamatórias que reduzem ainda mais a ação da insulina, levando a um efeito cascata”, explica uma endocrinologista de um centro especializado em São Paulo.

Por essa razão, especialistas consultados afirmam que manter o calendário de vacinas atualizado é uma medida fundamental para a saúde de quem tem diabetes. Um pediatra e infectologista, coordenador de um departamento de imunização de uma importante sociedade de diabetes, ressalta que a vacinação regular é essencial para reduzir a mortalidade nesse grupo de pacientes.

“A diabetes faz os indivíduos terem maior risco de complicações para algumas doenças infecciosas. Isso destaca a importância de que tenhamos nesses indivíduos um esquema de imunização completo e atualizado, com destaque para a importância de algumas vacinas nas diversas faixas etárias pertinentes”, afirma o especialista.

Vacinas que Pessoas com Diabetes Precisam Tomar

  1. Gripe
    A gripe é frequentemente subestimada, mas representa uma ameaça séria para quem convive com doenças crônicas. Cerca de 70% das mortes por influenza no Brasil ocorrem entre os grupos de risco, sendo a diabetes responsável por 20% a 30% desses casos. Nos serviços públicos, pessoas com diabetes têm acesso à versão trivalente, aplicada nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).
  2. Pneumocócica
    “Pessoas com diabetes têm um risco até 50% maior de ter pneumonia ao enfrentar infecções virais respiratórias. Já a chance de ter infecções generalizadas e meningite em consequência de doenças pneumocócicas é quatro vezes maior, por isso é tão importante manter o calendário de vacinas em dia”, explica um infectologista e professor universitário.
    O esquema de vacinação pneumocócica recomendado envolve duas vacinas diferentes, aplicadas de forma sequencial. A VPC10, indicada para crianças pequenas, é oferecida pelo SUS. Já a vacina polissacarídica 20-valente (VPP20) complementa a proteção a partir dos dois anos de idade. Disponível nos CRIE, exige duas doses com intervalo de cinco anos, sendo necessária uma terceira para quem tomou a segunda antes dos 60 anos.
  3. Herpes-zóster
    Embora a vacina contra a doença não esteja disponível no SUS, especialistas recomendam que aqueles com possibilidades financeiras realizem a vacinação da herpes-zóster na rede privada. O risco da doença é significativamente elevado em adultos com diabetes, especialmente após os 65 anos. A vacina é indicada a partir dos 50 anos.
  4. Hepatite B
    Pessoas com diabetes tipo 2 infectadas pelo vírus da hepatite B têm risco dobrado de desenvolver complicações hepáticas graves, como cirrose e câncer. A infecção também dificulta o controle glicêmico, já que o fígado está intimamente ligado ao pâncreas. A vacina contra hepatite B está disponível tanto na rede pública quanto privada. São três doses, e recomenda-se exame de Anti-HBs após a última aplicação para confirmar a proteção. Se os níveis forem baixos, o esquema vacinal deve ser repetido.
  5. VSR (Vírus Sincicial Respiratório)
    Pessoas com diabetes também têm maior risco de complicações graves e potencialmente fatais quando expostas ao vírus sincicial respiratório (VSR). A vacina está disponível no SUS apenas para bebês (que também são muito frágeis diante da doença viral), mas pode ser tomada por idosos e pessoas com comorbidades na rede particular.

Além das vacinas específicas, o esquema deve incluir todas as imunizações do calendário nacional, como tétano, tríplice viral, hepatite A, febre amarela e HPV.

Desinformação Ainda é Obstáculo

Apesar das diretrizes estabelecidas, muitos pacientes não recebem orientação adequada. Segundo uma cartilha de uma importante sociedade de imunizações para a vacinação de pessoas com diabetes, a baixa cobertura da atenção básica e a falta de conhecimento sobre a importância da vacinação dificultam a adesão de pacientes às campanhas de imunização.

“A imunização desses pacientes é, portanto, importante estratégia de proteção da saúde e de promoção da qualidade de vida. O grande desafio é vacinar esta população. Salvo em grandes campanhas, a informação sobre a importância das vacinas não costuma chegar à população”, diz a cartilha de um grupo de especialistas.

O acesso desigual à vacinação, especialmente em regiões mais distantes dos centros urbanos, contribui para a baixa cobertura. O fortalecimento das campanhas de conscientização é apontado como caminho necessário para mudar esse cenário.

Infecções como Possíveis Gatilhos

Além de proteger contra complicações, a ciência trabalha com a hipótese de que algumas vacinas podem atuar indiretamente na prevenção de casos de diabetes tipo 1 (DM1). Geralmente manifestada a partir da infância e da adolescência, a doença crônica ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca as células do pâncreas que produzem insulina, um hormônio essencial para regular o açúcar no sangue.

Especialistas acreditam que um dos “gatilhos” do desenvolvimento pode estar relacionado a infecções virais, algumas delas preveníveis com vacinas.

“A causa da DM1 é um processo complexo, parcialmente compreendido. A pessoa nasce com uma predisposição genética, mas a diabetes tipo 1 só vai acontecer se ocorrer a exposição a um ‘gatilho’ ambiental, que é variável entre as pessoas e pode ser um vírus”, explica uma médica, vice-presidente de uma sociedade de diabetes.

Os vírus que os estudos associaram com maior frequência como gatilhos virais para a diabetes tipo 1 foram o rotavírus, que tem vacina oral administrada em crianças menores de seis meses, e os enterovírus. Este último grupo causa uma série de doenças, desde a doença Mão-Pé-Boca (DMPB) até a poliomielite. Esta última é prevenível com vacina.

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