Pesquisadores brasileiros apontam que os neurogames — jogos digitais desenvolvidos para estimular funções cognitivas — podem melhorar a capacidade funcional de idosos com comprometimento cognitivo leve (CCL), ajudando-os a manter a autonomia no dia a dia. Os resultados do estudo foram publicados na revista GeroScience, em janeiro deste ano.
Os neurogames, também chamados de treinamentos cognitivos digitais, são atividades planejadas com base na neuroplasticidade — a habilidade do cérebro de se adaptar e melhorar. Eles atuam no fortalecimento da memória, atenção, raciocínio, linguagem e resolução de problemas, podendo beneficiar não apenas idosos, mas também jovens em fase de estudos ou reabilitação.
O que é o comprometimento cognitivo leve?
O CCL é caracterizado por um declínio cognitivo além do envelhecimento natural, mas que ainda não configura demência. Pessoas nesse estágio mantêm a independência, embora com mais lentidão ou propensão a erros nas tarefas rotineiras. Trata-se de uma fase crítica, em que intervenções podem retardar o agravamento dos sintomas.
“A partir de determinado ponto, o comprometimento cognitivo passa a afetar seriamente a vida da pessoa, exigindo apoio constante de terceiros”, explica uma das pesquisadoras envolvidas no estudo.
Resultados expressivos
O estudo avaliou 66 participantes com mais de 60 anos e diagnóstico de CCL, divididos em dois grupos: um com acesso aos neurogames e outro que usou jogos digitais comuns. Após 10 horas de intervenção, o grupo dos neurogames apresentou:
- Melhora de 21% na performance funcional
- Aumento de 36,75% no aprendizado
As avaliações foram feitas por meio do Canadian Occupational Performance Measure (COPM), ferramenta que mede o desempenho em tarefas do cotidiano a partir da percepção do próprio participante.
“Eles se sentiam mais capazes e mostraram melhor desempenho em atividades diárias”, destaca o pesquisador Rodrigo
Plataforma usada no estudo
A plataforma utilizada foi o BrainHQ, que oferece exercícios adaptativos em seis áreas: atenção, velocidade cerebral, memória, habilidades sociais, inteligência e navegação. Os desafios se ajustam automaticamente ao desempenho do usuário, promovendo estimulação contínua.
Próximos passos na pesquisa
Os cientistas já trabalham em novos estudos. Um deles investiga como os exercícios físicos podem potencializar os efeitos dos neurogames. Outro teste em andamento combina o uso dos jogos com estimulação elétrica transcraniana (tDCS) em áreas específicas do cérebro, na tentativa de amplificar a resposta cognitiva.