Obesidade monogênica: uma doença rara que vai muito além do peso

Reprodução: jarmoluk/pixabay

A obesidade é uma condição multifatorial, influenciada por elementos genéticos, ambientais e comportamentais. No entanto, uma forma rara da doença, desencadeada por alterações em um único gene, tem desafiado a medicina com suas implicações precoces e profundas na saúde dos pacientes.

Essa condição, conhecida como obesidade monogênica, representa cerca de 5% dos casos de obesidade e é causada por mutações genéticas que resultam em um ganho de peso acentuado, além de outros comprometimentos no funcionamento do organismo.

Um Diagnóstico Precoce e Impactante

A obesidade monogênica se manifesta com um ganho de peso extremo desde a primeira infância, muitas vezes antes dos cinco anos. Embora seja causada por um único gene alterado, já foram identificadas mutações em pelo menos seis genes diferentes que podem levar à condição.

“A maioria dos casos está associada a mutações nos genes MC4R e LEPR. Além de resultar em um índice de massa corporal (IMC) muito elevado desde cedo, essas alterações genéticas também afetam o desenvolvimento do paciente, incluindo alterações na tireoide e no crescimento”, explica o endocrinologista Mário.

Sintomas e Consequências da Doença

A presença da obesidade monogênica está frequentemente associada a outras alterações fisiológicas. Em casos de mutações no gene LEPR, por exemplo, o hormônio leptina, responsável pelo controle do apetite, não é processado corretamente pelo corpo. Isso resulta em fome intensa e dificuldade em sentir saciedade, além de hipogonadismo (redução na produção de hormônios sexuais) e baixa estatura.

Já nos casos relacionados a alterações no gene MC4R, que regula o gasto energético, os pacientes enfrentam fome exacerbada, hipotireoidismo e alterações na composição corporal, incluindo aumento de massa gorda e óssea.

Diagnóstico e Desafios no Tratamento

Devido à gravidade dos sintomas, essa forma de obesidade costuma ser identificada ainda na infância, mas o diagnóstico definitivo requer testes genéticos. Além da hiperfagia (fome intensa), os portadores da doença podem apresentar atraso no desenvolvimento, baixa estatura, problemas esqueléticos e disfunções endócrinas.

“Apesar de ser rara, essa condição tem nos ajudado a entender melhor o papel do hipotálamo na regulação do peso e do apetite”, afirma o pesquisador Lício. Estudos recentes apontam que as vias leptina-melanocortina, envolvidas nessa forma de obesidade, também desempenham um papel crucial na regulação metabólica de indivíduos com obesidade comum.

O tratamento, no entanto, continua sendo um desafio. Medicamentos tradicionais e novas terapias, como o Wegovy, nem sempre apresentam bons resultados. Desde 2020, pesquisas têm explorado drogas análogas aos hormônios comprometidos nesses pacientes, o que pode revolucionar o tratamento. No entanto, esses medicamentos ainda são de alto custo e pouco acessíveis.

O Futuro da Pesquisa e do Tratamento

Embora a obesidade poligênica – causada por múltiplas mutações genéticas – seja muito mais comum, os avanços no estudo da forma monogênica têm ajudado a desvendar os mecanismos fundamentais do metabolismo humano. Essa compreensão abre caminho para terapias mais eficazes e personalizadas, que podem transformar a abordagem da obesidade nos próximos anos.

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