No evento de abertura das comemorações dos 25 anos do EpiSUS, dois profissionais da saúde compartilharam suas experiências, desafios e superações durante o período de formação no nível avançado do programa.
O EpiSUS oferece vagas afirmativas para profissionais de países lusófonos desde 2017. Até o momento, três profissionais da Guiné-Bissau se formaram no nível avançado (14ª e 15ª turmas). Atualmente, Janilza Silveira, de Cabo Verde, e Benvindo Sá, da Guiné-Bissau, estão em treinamento. Os países são responsáveis por selecionar e indicar seus candidatos, que passam por etapas como entrevistas, análise do histórico profissional e definição de objetivos a partir do treinamento.
O aprendizado adquirido no Brasil acompanha os profissionais quando voltam aos seus países de origem, beneficiando não apenas suas trajetórias pessoais, mas também suas comunidades. Além disso, esses profissionais podem auxiliar outros países, inclusive o Brasil, quando necessário.
População Vulnerável
Com um mestrado na Inglaterra, um estágio no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em Atlanta e uma pós-graduação em Saúde Pública, Janilza Silveira chegou ao Brasil pela segunda vez com um olhar cada vez mais aguçado para a vigilância epidemiológica. No entanto, foi no EpiSUS que encontrou o que tanto buscava: um aprendizado prático, no calor dos surtos, no contato direto com populações vulneráveis.
Sua primeira experiência de campo foi em um surto de hepatite A na Região Sul do Brasil. Além de mapear os casos, Janilza e sua equipe identificaram que a doença atingia de forma desproporcional pessoas em situação de rua. “Poder demonstrar que era necessário um olhar específico para essa população vulnerável foi algo muito significativo para mim”, recorda.
Mesmo com sua experiência internacional e familiaridade com o Brasil, a mudança não foi fácil. “Tive que pausar o trabalho que fazia para me dedicar a um período mais acadêmico, mas sei que isso será aplicado na prática e trará benefícios”. Seu futuro já está traçado: voltar para Cabo Verde e aplicar tudo o que aprendeu, fortalecendo o Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP) e contribuindo para a formação de novos epidemiologistas no país.
Progresso dos Colegas
A pandemia de Covid-19 foi um divisor de águas na vida de Benvindo Sá. Médico de formação, ele atuava na assistência clínica quando foi chamado para integrar a equipe de resposta rápida na Guiné-Bissau. Foi ali, lidando diretamente com surtos, que entendeu que seu caminho era a epidemiologia de campo.
A decisão de ingressar no EpiSUS foi influenciada por um colega que já havia passado pelo programa. “Vendo o progresso dos colegas que fizeram o EpiSUS, percebi que estavam contribuindo significativamente para o sistema de saúde do nosso país. Os resultados eram palpáveis, dava para ver a diferença que faziam”, conta.
Benvindo concluiu o nível intermediário do programa na Guiné-Bissau e soube que o EpiSUS também disponibilizava vagas para países lusófonos no nível avançado. “Comecei a pesquisar mais sobre o EpiSUS, vi a experiência do programa ao longo do tempo e como ele formava profissionais que depois poderiam apoiar outros países”, relata. A familiaridade com a língua portuguesa o fez optar pelo programa brasileiro.
Apesar dos desafios, ele considera a experiência gratificante. “O EpiSUS tem sido uma experiência valiosa porque me permite aprender fazendo”. Seu primeiro campo no Brasil foi em Santa Catarina, investigando um surto de febre do oropouche. Depois, foi para o sul da Bahia apoiar uma investigação sobre varicela em uma aldeia indígena. Mas foi no Pará, liderando uma investigação sobre meningite, que sentiu o peso da responsabilidade. “Foi um grande desafio conduzir tudo em um país com um sistema de saúde diferente, lidando com equipes que têm uma outra dinâmica e modos de lidar com a situação”.
Ele conclui: “Assim que terminar a formação, pretendo voltar e contribuir com o fortalecimento do sistema de saúde do meu país, assim como os colegas que já passaram por esse programa. Esse é o objetivo do EpiSUS: qualificar profissionais para fortalecer os sistemas de saúde dos países, especialmente os lusófonos”.