O monitoramento dos níveis de colesterol é uma prática comum entre adultos, mas ainda é pouco frequente entre crianças e adolescentes. Muitos pais desconhecem a importância do exame, e até mesmo profissionais de saúde nem sempre o solicitam. No entanto, um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado em 2023 no Jornal Arquivos de Endocrinologia e Metabolismo, revelou que 24,4% das crianças e adolescentes brasileiros apresentam alterações nos níveis de colesterol total, enquanto 19,2% possuem altos índices de colesterol LDL, considerado prejudicial à saúde cardiovascular.
O excesso dessa lipoproteína no sangue pode levar ao acúmulo de gordura nas artérias, contribuindo para o desenvolvimento da aterosclerose, principal fator de risco para infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Diante disso, especialistas recomendam que crianças entre 2 e 8 anos, cujos familiares tenham histórico de doenças cardiovasculares, realizem exames regulares. Entre 9 e 12 anos, a triagem deve ser feita em todas as crianças, independentemente dos antecedentes familiares. Entre 12 e 16 anos, o monitoramento volta a ser indicado apenas para aqueles com fatores de risco. Já entre 17 e 21 anos, pelo menos um exame deve ser realizado, com repetição semestral caso haja alterações.
Um problema global
A falta de rastreamento do colesterol entre jovens é uma questão mundial. Um estudo publicado em julho de 2024 pelo JAMA Network Open revelou que, nos Estados Unidos, apenas 11% dos jovens de 9 a 21 anos realizam exames regulares, mesmo com diretrizes que recomendam ao menos duas triagens nessa fase. Entre os testados, 30% apresentaram níveis lipídicos anormais, sendo a maior incidência entre aqueles com obesidade.
Os pesquisadores alertam que essa situação requer intervenções mais eficazes, incluindo políticas públicas e campanhas de conscientização. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as doenças cardiovasculares sejam responsáveis por quase 18 milhões de mortes anuais, reforçando a necessidade de prevenção precoce.
Tratamento e prevenção
Quando identificado um colesterol elevado, a primeira abordagem recomendada é a mudança no estilo de vida, com a adoção de uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividades físicas. Em alguns casos, doenças subjacentes, como diabetes ou problemas renais, podem estar associadas ao aumento dos níveis lipídicos, exigindo tratamento específico.
Especialistas ressaltam que o uso de medicamentos deve ser avaliado conforme a faixa etária, sendo indicado apenas em casos mais graves e com acompanhamento médico rigoroso.
Além disso, medidas educacionais e políticas públicas podem desempenhar um papel fundamental na prevenção. Ambientes escolares devem incluir atividades físicas e educação alimentar em sua grade curricular, enquanto espaços públicos devem ser estruturados para incentivar práticas saudáveis.
A acessibilidade a alimentos saudáveis também é um ponto crucial. Muitos especialistas defendem a taxação de ultraprocessados, tornando-os mais caros, e a redução dos preços de opções nutritivas, como forma de incentivar uma alimentação equilibrada e reduzir o risco de doenças cardiovasculares futuras.