A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Unicef e a Aliança Gavi soaram o alarme nesta quinta-feira (24/04) durante a Semana Mundial de Imunização: o avanço da vacinação global corre sérios riscos. O crescimento de focos de doenças evitáveis, o impacto de cortes no financiamento à saúde, desinformação crescente e crises humanitárias têm comprometido conquistas históricas na área da imunização, deixando milhões de pessoas, principalmente crianças, em situação de vulnerabilidade.
O alerta destaca que enfermidades como sarampo, febre amarela e meningite têm apresentado crescimento preocupante em diversos países. Outras, como a difteria — controlada há décadas —, também ameaçam ressurgir em meio à queda da cobertura vacinal.
As entidades fazem um apelo por maior atenção política e financiamento contínuo para reforçar os programas de vacinação. Em meio a esse cenário, os especialistas pedem foco urgente na preservação dos avanços obtidos nas últimas décadas, sobretudo na redução da mortalidade infantil.
Mais de 150 milhões de vidas salvas por vacinas
Em publicação na rede X (antigo Twitter), o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, lembrou que a vacinação salvou mais de 150 milhões de vidas nos últimos 50 anos — o que representa mais de 4 milhões de vidas por ano. “Com vacinação para todos, tudo é possível”, escreveu Tedros. Ele acrescentou que uma criança nascida hoje tem 40% mais chance de sobreviver ao primeiro ano de vida do que uma nascida em 1975.
Tedros também ressaltou os benefícios trazidos pelas novas vacinas contra a malária e o câncer do colo do útero. No entanto, ele alertou que os cortes recentes nos recursos destinados à saúde global colocam em risco essas conquistas. “Vacinas não apenas protegem indivíduos, mas também comunidades inteiras e economias”, enfatizou.
Sarampo: doença avança em ritmo acelerado
Um dos focos mais preocupantes é o sarampo, que voltou a se espalhar de forma perigosa desde a pandemia de covid-19. Em 2023, mais de 10 milhões de casos foram registrados, número 20% maior que em 2022. A tendência, segundo as agências, é de aumento contínuo em 2024 e 2025. Nos últimos 12 meses, 138 países reportaram casos, sendo 61 com surtos de grande impacto — o número mais alto desde 2019.
Crescimento nos casos de meningite e febre amarela
Na África, os primeiros meses de 2025 já registraram um crescimento expressivo da meningite: mais de 5,5 mil casos suspeitos e quase 300 mortes foram relatados em apenas 22 países. Em 2024, o continente contabilizou cerca de 26 mil casos e 1.400 mortes.
A febre amarela também voltou a preocupar. Em 2024, 124 casos foram confirmados em 12 países africanos, após uma década de declínio graças a campanhas eficazes de vacinação. Nas Américas, surtos também têm sido registrados desde o início do ano, incluindo 131 casos em quatro países — entre eles, o Brasil.
Falta de recursos ameaça campanhas e suprimentos
Um relatório recente da OMS revelou que quase metade de seus escritórios em países de baixa e média renda está enfrentando interrupções nas campanhas de vacinação devido à redução no apoio financeiro internacional. A vigilância de doenças também vem sendo afetada em mais da metade dessas nações.
Crianças sem vacinação aumentam ano a ano
Em 2023, cerca de 14,5 milhões de crianças não completaram o esquema básico de vacinação — número maior que o de 2022 (13,9 milhões) e de 2019 (12,9 milhões). A maioria vive em países marcados por instabilidade, conflitos armados ou sistemas de saúde fragilizados.
A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, alertou que a falta de recursos pode impedir a vacinação de mais de 15 milhões de crianças vulneráveis em países afetados por guerras ou crises humanitárias. “Serviços de imunização e resposta a surtos já estão sendo interrompidos em quase 50 países. Isso representa um retrocesso comparável ao que vivemos durante a pandemia”, afirmou.
