Apesar de já ter recebido mais de R$ 32 milhões em recursos públicos apenas entre janeiro e abril de 2025, o Hospital São Marcos, referência no tratamento oncológico em Teresina, suspendeu temporariamente parte dos atendimentos a pacientes com câncer. A justificativa, segundo comunicados não assinados entregues a pacientes, seria o suposto não pagamento de parcelas previstas em contrato com a Fundação Municipal de Saúde (FMS).
Os dados da própria FMS, no entanto, contradizem a informação. Entre 1º de janeiro e 14 de abril de 2025, o hospital recebeu repasses do Sistema Único de Saúde (SUS/FMS) que somam R$ 32,1 milhões, valor bruto destinado a cobrir os atendimentos hospitalares e ambulatoriais. Os pagamentos mensais foram:
- Janeiro: R$ 9,799 milhões
- Fevereiro: R$ 13,540 milhões
- Março: R$ 7,627 milhões
- Abril (até o dia 14): R$ 1,2 milhão
Esses valores incluem produção hospitalar e ambulatorial, FAEC (Fundo de Ações Estratégicas e Compensação), complementações da SESAPI, piso da enfermagem e incentivos do programa Íntegra SUS.
Apesar disso, a administração do hospital admite que enfrenta problemas financeiros internos, embora as causas ainda não tenham sido esclarecidas. Diante do cenário, a FMS considera abrir uma auditoria financeira para apurar a real situação da instituição.
Dívida de R$ 31 milhões
Outro fator agravante foi revelado por uma auditoria interna realizada em 2024 pela FMS e pela Secretaria Municipal de Finanças: o hospital acumula uma dívida de R$ 31 milhões com a Fundação. O débito é referente a empréstimos consignados feitos junto a instituições financeiras e pagos de forma irregular, com descontos diretamente nos repasses do Fundo Nacional de Saúde, comprometendo os recursos destinados ao teto MAC (Média e Alta Complexidade).
A própria instituição reconheceu a dívida, que levou à suspensão de repasses municipais complementares. Atualmente, o São Marcos ainda recebe R$ 700 mil mensais de renúncia fiscal da Prefeitura, R$ 2,5 milhões do Governo Federal, além de R$ 900 mil do Governo do Estado.
Esforços por solução
A crise gerou preocupação na administração municipal. O prefeito de Teresina, Sílvio Mendes, e o presidente da FMS, Charles Silveira, viajaram a Brasília para discutir o assunto diretamente com o Ministério da Saúde.
“A FMS reafirma seu compromisso com uma resolução justa e transparente, que garanta a continuidade do atendimento de qualidade. Nossa prioridade é o paciente”, destacou Charles Silveira.