“Veneno” invisível no prato: como o aquecimento global pode transformar o arroz em um risco silencioso à saúde

Reprodução: Foto/freepik

O arroz, base alimentar para bilhões de pessoas em todo o mundo, pode estar se tornando uma ameaça à saúde pública. Um estudo recente conduzido por pesquisadores internacionais revelou que o aumento das temperaturas globais e da concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera pode elevar significativamente os níveis de arsênio inorgânico nos grãos de arroz — um elemento químico tóxico, associado a doenças graves como câncer, diabetes e problemas cardiovasculares.

A pesquisa, realizada ao longo de uma década na China com 28 variedades de arroz cultivadas em diferentes condições climáticas simuladas, apontou que o acúmulo de arsênio nos grãos tende a crescer à medida que o planeta aquece. Essa contaminação está ligada à forma como o arroz é tradicionalmente cultivado: em solos alagados, sem oxigênio, que favorecem a ação de bactérias que tornam o arsênio mais biodisponível para as plantas.

Os resultados são preocupantes: apenas na China, os pesquisadores estimam que esse fenômeno pode causar até 19,3 milhões de novos casos de câncer nas próximas décadas, caso os padrões de consumo e as emissões continuem nos níveis atuais.

Um contaminante silencioso

O arsênio está naturalmente presente no solo e na água, mas sua forma inorgânica — mais tóxica — é motivo de atenção crescente. Ao ser absorvido pelas plantas de arroz em ambientes alagados, ele se acumula nos grãos e, ao ser ingerido de forma contínua, pode provocar efeitos cumulativos no organismo humano. Os riscos são maiores em populações vulneráveis, como crianças, gestantes e idosos, e em países que consomem grandes quantidades de arroz diariamente.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece limites legais para a presença de arsênio no arroz — 0,20 mg/kg para o arroz branco e 0,35 mg/kg para o integral. A última avaliação, realizada em 2023, não identificou irregularidades. Ainda assim, especialistas alertam que o risco, mesmo dentro dos parâmetros legais, não é inexistente.

Mudanças climáticas intensificam o problema

Segundo os autores do estudo, a combinação entre aumento de temperatura e maior concentração de CO₂ cria um ambiente ideal para que micro-organismos do solo liberem mais arsênio, facilitando sua absorção pelas raízes do arroz. Esse “efeito sinérgico” pode afetar culturas em diversas partes do mundo — incluindo América do Sul, Sudeste Asiático, Europa e Estados Unidos.

Além disso, mudanças no consumo alimentar previstas para os próximos anos, como o aumento da ingestão de arroz integral (que possui naturalmente mais arsênio do que o branco), podem agravar ainda mais a exposição da população.

O que pode ser feito?

Abandonar o arroz está fora de questão, principalmente em regiões onde ele representa a principal fonte de calorias. No entanto, há alternativas em estudo, como:

  • Métodos de irrigação alternativos, que reduzem a disponibilidade de arsênio no solo;
  • Cultivo de variedades que absorvem menos arsênio;
  • Uso de aditivos naturais, como o enxofre, e fertilizantes específicos que alteram o microbioma do solo;
  • Monitoramento mais rigoroso e regulamentações internacionais mais rígidas.

Por enquanto, estratégias como lavar e cozinhar o arroz com maior volume de água e descartá-la após o cozimento podem ajudar a reduzir a quantidade de arsênio nos pratos.

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