As dietas da moda continuam a circular pelas redes sociais com promessas de emagrecimento rápido, e uma das mais discutidas atualmente é a chamada “dieta carnívora”, que favorece o consumo exclusivo de produtos de origem animal, como carne, ovos e laticínios. Porém, apesar de sua popularidade, essa abordagem alimentar desperta controvérsias devido aos possíveis riscos à saúde.
Um estudo recente publicado em 22 de janeiro na revista científica JAMA Cardiology trouxe à tona os perigos dessa dieta, ao relatar o caso de um homem de 40 anos que passou a consumir mais de três quilos de queijo por dia, além de hambúrgueres, filés e manteiga. Após oito meses com esse regime alimentar, seus níveis de colesterol chegaram a 1.000 mg/dl, cinco vezes o valor considerado normal. Como consequência, ele desenvolveu xantelasma, um distúrbio caracterizado pelo acúmulo de gordura sob a pele, com nódulos visíveis nas palmas das mãos. Segundo o nutrólogo Celso, o excesso de gordura saturada foi o principal fator desencadeante dessa condição.
Carnes gordurosas, leite integral e outros alimentos de origem animal concentram ácidos graxos saturados, substâncias associadas ao aumento do colesterol LDL, conhecido como “colesterol ruim”. O aumento de LDL está diretamente relacionado a inflamações e à formação de placas nas artérias, o que pode levar a sérios problemas cardiovasculares, como infartos, alerta a nutricionista Milena, coordenadora do Ambulatório de Nutrição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Cardápio restrito e riscos à saúde
Seguir a dieta carnívora implica em eliminar da alimentação grãos, frutas, hortaliças e alimentos ultraprocessados, que são ricos em gorduras, açúcares e aditivos. Embora os adeptos desta dieta relatem melhorias no metabolismo e perda de peso, a ciência ainda carece de estudos conclusivos que comprovem os benefícios dessa prática alimentar.
Porém, há uma abundância de evidências científicas que demonstram que a falta de equilíbrio na alimentação pode causar sérios danos à saúde. Em 2020, o cantor britânico James Blunt, que também aderiu à dieta carnívora, foi diagnosticado com escorbuto, uma doença causada pela deficiência de vitamina C, que resulta em sangramentos nas gengivas, cansaço extremo e outros sintomas.
A eliminação do carboidrato, nutriente essencial para a produção de energia nas células, pode causar fadiga e desânimo, como destaca a especialista. “Carboidratos devem ser consumidos de forma equilibrada e, preferencialmente, nas versões integrais, dentro de uma dieta saudável”, explica.
O efeito das dietas restritivas
A dieta carnívora é apenas uma das várias opções de dietas restritivas que surgiram ao longo dos anos, seguindo uma tendência que começou na década de 1970 com a famosa dieta Atkins, baseada em baixo carboidrato. Outras versões como a paleolítica, que busca imitar os hábitos alimentares dos nossos ancestrais, e a cetogênica, que tem protocolos específicos para condições como a epilepsia, também têm ganhado seguidores. Contudo, como aponta Celso, essas dietas devem ser seguidas apenas com a orientação de um profissional de saúde.
Além de aumentar o consumo de gorduras saturadas, essas dietas frequentemente sobrecarregam o organismo com grandes quantidades de proteínas, exigindo mais esforço dos rins para processar e eliminar os resíduos. No caso da dieta carnívora, a falta de fibras, presentes em frutas, hortaliças e grãos, pode causar prejuízos no funcionamento intestinal, levando a problemas como constipação e dificuldade na absorção de nutrientes essenciais, como vitaminas e minerais, alerta a nutricionista da Unifesp.