Estudos recentes apresentados na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2025), realizada entre 9 e 12 de março nos Estados Unidos, estão trazendo novas perspectivas no tratamento do HIV. Embora a cura ainda esteja distante, os cientistas estão otimistas de que estamos cada vez mais próximos de um tratamento que possa fornecer uma proteção duradoura, praticamente erradicando a infecção.
Dois estudos de grande relevância, apresentados no evento, revelaram que tratamentos com anticorpos monoclonais podem garantir proteção aos pacientes por mais de um ano, sem a necessidade de terapia antirretroviral (TARV), que geralmente é administrada diariamente. O CROI 2025, um dos maiores encontros globais sobre HIV/AIDS, se mostrou crucial para o avanço das pesquisas.
Em alguns casos, cerca de 40% dos participantes conseguiram permanecer por mais de 12 meses sem recorrer ao tratamento convencional. Os estudos apontaram que uma combinação de anticorpos amplamente neutralizantes (bNAbs) foi capaz de manter o HIV sob controle, sem que houvesse aumento significativo da carga viral.
Anticorpos monoclonais são produzidos em laboratório a partir de células que possuem uma capacidade específica de combater doenças infecciosas ou autoimunes. Injetados na corrente sanguínea, eles oferecem uma resposta imunológica eficaz, com poucos efeitos colaterais.
Os estudos RIO e FRESH/Gilead, realizados em diferentes locais e com diferentes populações, mostraram resultados promissores, indicando que é possível controlar o HIV sem a necessidade de tomar medicamentos diários.
Estudo RIO: Controle prolongado sem TARV
O estudo RIO, conduzido no Reino Unido e na Dinamarca, envolveu 68 participantes que interromperam a TARV para testar novas abordagens terapêuticas. Metade dos participantes recebeu infusões de placebo, enquanto a outra parte foi tratada com dois bNAbs de longa duração: 3BNC117 e 10-1074. Esses anticorpos atacam diferentes partes do envelope do HIV, dificultando a infecção das células.
Os resultados mostraram que, após 20 semanas sem o tratamento convencional, 65% dos participantes que receberam os anticorpos ainda apresentavam carga viral abaixo de mil cópias. Aos 48 meses, 57% continuaram sem necessidade de retomar o tratamento e, aos 72 meses, 39% mantiveram a carga viral controlada. Em sete casos, não houve aumento da carga viral ao longo de todo o período de dois anos.
A principal pesquisadora destacou que, apesar da resistência observada em alguns participantes ao anticorpo 10-1074, a grande maioria conseguiu retardar a progressão do HIV sem a necessidade de TARV.
Estudo FRESH: Resultados positivos entre mulheres jovens
O estudo FRESH, realizado na África do Sul com 20 mulheres jovens vivendo com HIV, também trouxe resultados promissores. As participantes, que estavam em tratamento com TARV há cerca de sete anos, interromperam a medicação de forma controlada. Neste estudo, os anticorpos utilizados foram diferentes: VRC07-523 e CAP256V2.
Dez participantes precisaram retomar a TARV antes da 48ª semana devido ao reaparecimento do HIV, enquanto seis apresentaram um aumento tardio da carga viral, mas conseguiram adiar o tratamento até a 48ª semana. Quatro participantes ficaram mais de 1,5 anos sem necessidade de TARV, sendo que duas delas mantiveram carga viral indetectável e as outras duas apresentaram cargas virais abaixo de 2 mil cópias/ml.
Reflexões sobre a cura do HIV
Os resultados dos estudos RIO e FRESH são um marco importante na pesquisa por uma cura para o HIV. Segundo o infectologista Álvaro, embora o conceito de cura ainda seja um tema delicado, os avanços com anticorpos neutralizantes oferecem uma esperança concreta. “Esses estudos mostram que, apesar de ainda não termos uma cura definitiva, podemos alcançar um controle prolongado do HIV, indo além da simples neutralização do vírus”, afirmou.
Embora o tratamento com bNAbs ainda não seja a cura completa, os resultados oferecem novas possibilidades. Os pesquisadores acreditam que, ao se ligarem ao HIV, os bNAbs potencializam a resposta imunológica, ajudando as células T a identificar e eliminar com mais eficiência as células infectadas, o que pode resultar em uma persistência de indetectabilidade por períodos prolongados.