Um estudo da Universidade de Manchester está desafiando a compreensão tradicional sobre os efeitos do jejum no organismo. A pesquisa, feita em camundongos, revela que o cérebro — mais precisamente o hipotálamo — tem papel central na forma como o sistema imunológico responde ao jejum, mesmo sem que haja privação real de alimentos.
Os cientistas demonstraram que, ao estimular artificialmente os neurônios da fome, foi possível observar uma reorganização do sistema imune similar à provocada por um jejum real. Entre os efeitos observados, destacou-se a redução de monócitos inflamatórios, células associadas a respostas imunes exacerbadas, como em infecções ou doenças autoimunes.
“A simples sensação de fome, sem interrupção da alimentação, foi suficiente para alterar o comportamento das células do sistema imunológico”, afirmam os pesquisadores.
Implicações para doenças inflamatórias e câncer
Essas descobertas abrem caminho para novas abordagens terapêuticas. Segundo os autores, entender a ligação entre o cérebro e a imunidade pode beneficiar o tratamento de doenças inflamatórias crônicas, além de explicar alterações imunes em pacientes com câncer que emagrecem mesmo mantendo a alimentação.
O estudo também lança luz sobre por que condições como obesidade e desnutrição impactam tanto o sistema imune: não se trata apenas da ingestão calórica, mas também de como o cérebro interpreta o estado nutricional do corpo.
Cérebro como alvo terapêutico
Os resultados reforçam a ideia de que mente e corpo estão profundamente conectados, e que o cérebro pode “reprogramar” a imunidade com base em sinais internos, sem mudanças externas reais, como o consumo de alimentos.
“Essa percepção nos ajuda a compreender melhor a imunologia do comportamento alimentar e pode levar a novos tratamentos que atuam diretamente no sistema nervoso central”, concluem os pesquisadores.