Diabetes tipo 2 durante a gravidez: estudo aponta riscos elevados de malformações em bebês

Reprodução: stevepb/pixabay

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, anualmente, 6% dos bebês nasçam com algum distúrbio congênito. E uma das possíveis causas desses problemas é a presença de diabetes na mãe. Um estudo brasileiro, publicado na revista científica Diabetologia e Síndrome Metabólica, aponta uma prevalência de 13,8% de malformações congênitas em bebês de mulheres diagnosticadas com diabetes tipo 2 antes ou durante a gestação.

“O nosso estudo chama a atenção para uma situação alarmante: a ausência praticamente total de preparação para a gravidez nas mulheres com diagnóstico de diabetes tipo 2”, afirma a médica Maria, uma das autoras do estudo. “O preparo pré-concepcional, com o controle adequado da glicemia, substituição de eventuais medicamentos em uso e a administração de ácido fólico poderia evitar possivelmente a maioria desse contingente de malformações congênitas.”

De acordo com a pesquisadora, apesar de a relação entre o diabetes e o aumento do risco de malformações congênitas já ser conhecida, a maioria das publicações que estuda a prevalência e o tipo de malformações congênitas nas gestantes não diferencia o tipo de diabetes materno.

Além disso, o aumento da obesidade em todas as faixas de idade repercutiu no aumento de diabetes tipo 2 em mulheres mais jovens, incluindo aquelas no período reprodutivo.

“Por conta disso, nos interessamos em analisar especificamente a prevalência de malformações congênitas na prole de mulheres com diabetes tipo 2”, explica.

Em estudo anterior publicado pelo mesmo grupo, foram avaliadas gestantes diabéticas em dois períodos (2005-2010 e 2011-2015) e constatou-se aumento abrupto dos casos de diabetes tipo 2 a partir de 2010.

Na pesquisa recente, a equipe fez uma análise retrospectiva de maio de 2005 a maio de 2021, incluindo todas as participantes grávidas com diabetes tipo 2 dos dois principais hospitais públicos do Rio Grande do Sul: o Hospital Nossa Senhora da Conceição e o Hospital de Clínicas, ambos em Porto Alegre e considerados referência em gestações de alto risco.

Ao todo, foram analisadas informações de 567 mulheres com diagnóstico pré-concepcional de diabetes tipo 2 ou que preenchessem os critérios da OMS, que incluem a glicemia de jejum, o teste de tolerância à glicose por via oral e a hemoglobina glicada.

De acordo com os resultados, as anomalias congênitas ocorreram em 78 bebês (13,8%), sendo que 73 deles (93,6%) apresentaram anomalias maiores, aquelas consideradas graves, que podem resultar em morte ou dano permanente. Por exemplo: nascer com um dedo a mais é uma anomalia congênita, mas a princípio não é grave, pois pode ser facilmente corrigida e a criança ter uma vida normal. Já algumas malformações cardíacas dificultam a correta distribuição do sangue e podem exigir cirurgias complexas.

As anomalias cardíacas foram as mais frequentes, seguidas das neurológicas. “Nosso estudo confirmou a hiperglicemia materna como o fator de risco mais importante para malformação congênita em mulheres com diabetes. Seria de esperar uma prevalência menor de malformações nas mulheres com diabetes tipo 2 que a descrita no diabetes tipo 1, mas tem-se mostrado equivalente”, pontua a docente da UFRGS.

A taxa de obesidade encontrada no estudo foi de 77%, e a doença é um grande fator de risco para diabetes.

Ligação entre hiperglicemia e anomalias

O diabetes é uma doença que se caracteriza pela falha na utilização de glicose pelo corpo, por deficiência de insulina ou por redução da sensibilidade dos tecidos à insulina (essa última condição é o que se chama de diabetes tipo 2). Como consequência, a circulação de glicose aumenta no sangue.

Na gravidez, esse excesso é difundido ao feto pela placenta. Vários mecanismos moleculares provavelmente são alterados pela hiperglicemia persistente, resultando no desarranjo anatômico fetal (malformação congênita), e que ainda estão em estudo.

De acordo com ginecologista e obstetra Rômulo, tanto no organismo das mulheres quanto no dos bebês, as hemoglobinas (proteínas dos glóbulos vermelhos do sangue) são responsáveis pelo transporte de oxigênio para os tecidos. Elas levam o oxigênio captado nos pulmões da mãe para a placenta, de onde segue para o bebê.

Estando em excesso, a glicose se liga à hemoglobina, formando a hemoglobina glicada (HbA1c). “O problema é que esta hemoglobina apresenta alta afinidade pelo oxigênio e não o libera adequadamente aos tecidos. Quanto mais glicose tiver, mais hemoglobina glicada vai se formar e menos oxigênio vai ser liberado. Isso significa que o bebê em formação recebe menos oxigênio do que deveria, resultando em possíveis malformações”, explica.

Em exames de sangue, a hemoglobina glicada indica os níveis de glicemia no organismo nos três meses anteriores, e funciona como um marcador dos índices glicêmicos. Espera-se que seus níveis estejam normais já no início da gestação. Quanto mais alta estiver, maior o risco de malformações.

Para o especialista, os resultados encontrados no estudo brasileiro reforçam a alta prevalência de obesidade e diabetes no país. “Estima-se que cerca de 60% das gestações no Brasil não sejam planejadas, o que por si só já reduz o controle da doença. Soma-se a isso o fato de que muitos afetados pelo diabetes ignoram esse diagnóstico, que em aproximadamente 70% das vezes é feito em estágio avançado”, alerta.

Segundo o estudo, a frequência de diabetes não diagnosticada entre os brasileiros de 20 a 79 anos chega a 31,9%. “Assim, é importante primeiramente realizar acompanhamento médico para o correto rastreamento da doença. Além disso, planejar a gravidez para que todos os controles prévios sejam realizados visando uma gestação saudável”, orienta.

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