Apesar dos alertas atuais presentes nos rótulos de tratamentos com terapia CAR-T, uma nova pesquisa realizada no Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSKCC), nos Estados Unidos, indica que esse tipo de terapia não aumenta as chances de desenvolvimento de cânceres secundários. Segundo os autores do estudo, os dados sugerem que os riscos têm sido superestimados, e que os avisos oficiais podem precisar de revisão.
A terapia CAR-T é uma abordagem inovadora no combate ao câncer, em que as células T do sistema imunológico do próprio paciente são coletadas e modificadas geneticamente em laboratório. Nessa modificação, é inserido um receptor chamado CAR (receptor de antígeno quimérico), que permite às células reconhecerem e atacarem células tumorais específicas. Depois desse processo, as células são reintroduzidas no organismo do paciente.
Em 2024, a FDA (agência reguladora dos EUA) optou por incluir um aviso em destaque nos tratamentos com CAR-T, citando um possível risco aumentado de cânceres de células T, que poderiam surgir após o tratamento, mesmo sem relação com o câncer original – como linfomas de células B ou mieloma múltiplo. A decisão foi tomada com base em relatos do banco de dados de eventos adversos da agência.
No entanto, o novo levantamento analisou dados de 18 ensaios clínicos e sete estudos em ambientes reais, envolvendo mais de 5.500 pacientes com linfoma ou mieloma múltiplo. Todos haviam sido tratados com uma das seis terapias CAR-T atualmente aprovadas.
Ao longo de um acompanhamento médio de 22 meses, cerca de 5,8% dos pacientes desenvolveram algum tipo de câncer secundário — um número muito próximo ao observado em grupos tratados com métodos convencionais. Nos quatro estudos que compararam diretamente a terapia CAR-T com tratamentos padrão, a incidência de novos cânceres foi praticamente idêntica: 5% entre os pacientes tratados com CAR-T e 4,9% entre os demais.
Outro dado importante é que o risco não variou de acordo com o tipo de câncer original nem com o tipo de terapia CAR-T aplicada. Porém, pacientes que passaram por mais de três ciclos de tratamento convencional antes da CAR-T apresentaram um risco maior de desenvolver cânceres secundários do que aqueles que receberam até três ciclos.
Além disso, a imensa maioria dos tumores surgidos após o tratamento não eram malignidades de células T. Apenas cinco casos (0,09%) se enquadravam nessa categoria. E, ao investigar a origem genética dessas células T malignas, apenas um caso mostrou possível ligação com o material utilizado na terapia.