Um estudo conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que a versão injetável da profilaxia pré-exposição (PrEP) contra o HIV apresentou um índice de adesão superior ao da PrEP oral, atualmente oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa, intitulada ImPrEP CAB, foi apresentada recentemente na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, realizada nos Estados Unidos.
O levantamento acompanhou aproximadamente 1,4 mil voluntários em unidades de saúde pública de seis capitais brasileiras – Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Campinas, Florianópolis e Manaus – entre outubro de 2023 e setembro de 2024. Os pesquisadores observaram que a opção injetável pode ser um instrumento importante para superar os desafios relacionados à adesão da PrEP oral, especialmente entre jovens e grupos vulneráveis, contribuindo para a redução da incidência do HIV no país.
Metodologia do estudo
O estudo focou em pessoas entre 18 e 30 anos, incluindo homens que fazem sexo com homens, transgêneros e não-binários. Os participantes nunca haviam utilizado a PrEP antes e buscaram os serviços de saúde para iniciar a prevenção ou realizar exames para detecção do HIV.
Os voluntários tiveram liberdade para escolher entre a PrEP oral ou a injetável. A maioria (83%) optou pela versão injetável, que consiste na administração do medicamento cabotegravir a cada dois meses. Já os 17% que preferiram a PrEP oral receberam um comprimido diário contendo tenofovir e entricitabina, protocolo adotado pelo SUS desde 2017.
Os resultados indicaram que 94% daqueles que optaram pela PrEP injetável compareceram regularmente às unidades de saúde para a aplicação da medicação, mantendo-se protegidos durante quase todo o período do estudo. Nenhum participante desse grupo testou positivo para o HIV. Por outro lado, entre os que escolheram a PrEP oral, a proteção efetiva foi observada em apenas 58% dos dias de monitoramento, e um caso de infecção foi registrado.
Comparativos com dados nacionais
Os pesquisadores também compararam os resultados com informações de 2,4 mil usuários da PrEP oral atendidos pelo SUS em 14 cidades brasileiras. Neste grupo, a adesão foi ainda menor, com cobertura de apenas 48%, resultando em nove novas infecções pelo HIV.
O Ministério da Saúde informou que acompanha os desdobramentos da pesquisa, mas não confirmou previsão para a inclusão da PrEP injetável no SUS. A pasta reforçou, entretanto, que a profilaxia pré-exposição, mesmo na forma oral, é uma estratégia fundamental para conter a transmissão do HIV e um dos principais pilares para a eliminação da doença como problema de saúde pública até 2030. O ministério destacou ainda que o Brasil dobrou o número de usuários de PrEP nos últimos três anos, atingindo 119 mil beneficiários em 2025.
Cenário epidemiológico
O último boletim epidemiológico divulgado no final de 2024 apontou que, em 2023, o Brasil registrou 46.495 novos casos de infecção pelo HIV, um aumento de 2 mil casos em relação ao ano anterior. Mais de 40% dessas infecções ocorreram entre homens de 20 a 29 anos. Apesar do crescimento nas notificações, avanços no tratamento contribuíram para a redução da taxa de mortalidade por AIDS em 32,9% entre 2013 e 2023.
Fonte: Agência Brasil