Um estudo liderado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) revelou que até 50% dos casos de demência em idosos hospitalizados não são identificados pelas equipes médicas. O levantamento aponta que essa condição, cada vez mais comum com o envelhecimento da população, ainda passa despercebida nos hospitais, principalmente por conta da prioridade no tratamento das doenças agudas que motivam a internação.
De acordo com o pesquisador e professor colaborador da FMUSP, Márlon Aliberti, a atenção dos profissionais de saúde costuma se concentrar em quadros como pneumonia, infecção urinária ou descompensação cardíaca, deixando de lado avaliações mais aprofundadas do estado cognitivo do paciente. No entanto, ele alerta que a demência impacta diretamente o tratamento, dificultando a reabilitação, aumentando o risco de delírio e prolongando o tempo de internação.
“Entre os idosos hospitalizados com 65 anos ou mais, dois terços apresentam algum grau de comprometimento cognitivo. E, entre os diagnosticados com demência, metade nunca havia recebido esse diagnóstico antes da hospitalização”, explicou Aliberti.
Entrevista com familiares ajuda a identificar sinais de demência
Para enfrentar esse desafio, os pesquisadores propuseram um método simples e eficaz: realizar uma entrevista com familiares ou cuidadores logo nos primeiros dias de internação, a fim de levantar informações sobre a memória e as capacidades cognitivas do paciente antes do agravamento do quadro de saúde.
Segundo a professora associada da FMUSP e supervisora do estudo, Claudia Suemoto, essa abordagem permite detectar sinais de demência mesmo quando o paciente está confuso, com dor ou incapaz de se comunicar.
“Não é um diagnóstico final, mas uma triagem essencial que permite ajustar o cuidado hospitalar e planejar melhor a alta. Isso pode evitar reinternações e garantir mais suporte em casa”, explica a médica.
Método testado em cinco hospitais apresenta eficácia superior a 90%
O novo método foi testado em cinco hospitais de São Paulo, Belo Horizonte e Recife, com eficácia superior a 90% na identificação de casos subnotificados de demência. A abordagem será agora expandida para toda a rede do grupo de pesquisa Change (Creating a Hospital Assessment Network in Geriatrics), da FMUSP. Mais de 250 profissionais de saúde já foram treinados para aplicar a ferramenta em 43 hospitais do Brasil, além de unidades em Angola, Chile, Colômbia e Portugal.
O estudo foi conduzido pelo Laboratório de Investigação Médica em Envelhecimento da FMUSP, sob coordenação da professora Claudia Suemoto, com colaboração da professora Mônica Yassuda, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, e da médica Regina Magaldi, da Divisão de Geriatria do Hospital das Clínicas da USP.