Cada pessoa tem uma maneira única de respirar — tão específica quanto uma impressão digital. É o que revela um estudo realizado por neurocientistas israelenses, publicado nesta última quinta-feira (12/06) na revista científica Current Biology. A descoberta pode abrir caminho para novas formas de diagnóstico e tratamento de distúrbios físicos e mentais.
A pesquisa foi conduzida no Instituto de Ciências Weizmann, em Israel, e liderada pela neurocientista Timna Soroka. A equipe desenvolveu um dispositivo portátil que monitora o fluxo de ar nas narinas de forma contínua, por até 24 horas, captando características como ritmo, frequência, volume, pressão e pausas entre as respirações.
Com base nesses dados, os cientistas conseguiram identificar com precisão de até 96,8% quem eram os participantes — índice comparável a métodos biométricos avançados, como leitura de impressão digital ou reconhecimento facial. O experimento envolveu 97 voluntários, que usaram o aparelho tanto durante o dia quanto durante o sono.
Respirar também revela nossa saúde física e mental
O estudo vai além do reconhecimento individual. Segundo os pesquisadores, o padrão de respiração captado pelo aparelho também fornece indícios do estado físico e emocional da pessoa. Por exemplo, indivíduos com maior índice de massa corporal (IMC) apresentaram padrões diferentes daqueles com IMC mais baixo. Já pessoas com sintomas de ansiedade mostraram respiração mais curta, irregular e com pausas mais frequentes, especialmente durante o sono.
“Intuitivamente, pensamos que ansiedade ou depressão alteram nossa respiração. Mas talvez seja o contrário. Talvez mudar a forma como respiramos possa nos ajudar a lidar com essas condições”, explicou Noam Sobel, coautor do estudo.
De diagnóstico à possibilidade de tratamento
Os resultados animam os cientistas para aplicações futuras. Eles acreditam que o padrão respiratório pode se tornar uma ferramenta não invasiva de diagnóstico precoce para transtornos como ansiedade, depressão, distúrbios metabólicos e neurológicos, além de problemas relacionados ao sono.
O próximo passo do grupo é investigar se a adoção voluntária de padrões respiratórios mais saudáveis pode ter impacto direto na saúde mental e emocional. “Nosso objetivo é ir além do diagnóstico. Queremos testar se modificar a respiração pode funcionar como uma forma de tratamento. Estamos otimistas, mas com cautela”, finalizou Sobel.