Uma orientação recente do órgão regulador de medicamentos do Reino Unido acendeu um alerta global sobre o uso de medicamentos para emagrecer, como Wegovy (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida), por mulheres em idade fértil. O motivo: esses remédios podem afetar a eficácia de anticoncepcionais orais, aumentando o risco de gravidez inesperada.
O aviso surgiu após 40 relatos de gestações não planejadas entre mulheres que estavam utilizando medicamentos da classe GLP-1 para perda de peso. A causa mais provável estaria no efeito desses fármacos sobre o esvaziamento gástrico, que atrasa a chegada do anticoncepcional ao intestino — local onde o medicamento é absorvido.
Redução na absorção hormonal
Estudo publicado em 2024 mostrou que a tirzepatida reduziu em 20% a presença do etinilestradiol (hormônio sintético presente na pílula combinada) no sangue e atrasou sua absorção completa em até quatro horas. Embora a semaglutida apresente efeitos semelhantes, eles parecem ser menos intensos.
“O esvaziamento gástrico mais lento causado por esses medicamentos provavelmente diminui a absorção do anticoncepcional no intestino delgado, o que pode comprometer sua eficácia contraceptiva”, alertam os pesquisadores.
Vômitos e diarreia: outro risco importante
Outros efeitos adversos frequentes, como vômitos e diarreia — que afetam 12% e 23% dos usuários de tirzepatida, respectivamente — também podem prejudicar a eficácia de medicamentos orais, expelindo-os do corpo antes que sejam absorvidos.
Por esse motivo, especialistas recomendam o uso de métodos contraceptivos de apoio, como preservativos, caso ocorram episódios gastrointestinais nas primeiras semanas de tratamento.
Perda de peso pode aumentar fertilidade
Um terceiro fator que pode explicar o aumento de gestações é o efeito da perda de peso sobre a fertilidade feminina. A obesidade é um fator conhecido de infertilidade, e sua redução — especialmente em mulheres com síndrome dos ovários policísticos — pode restaurar a ovulação e elevar as chances de gravidez, mesmo com o uso de contraceptivos.
DIUs e métodos não orais não são afetados
Segundo as evidências disponíveis, métodos contraceptivos não orais, como DIUs (de cobre ou hormonais), implantes, adesivos transdérmicos e injeções, não sofrem interferência dos medicamentos GLP-1, pois seus princípios ativos não dependem do trato gastrointestinal para serem absorvidos.
Recomendação médica
Mulheres que começarem o uso de Wegovy ou Mounjaro devem utilizar um método contraceptivo adicional por pelo menos quatro semanas, especialmente durante a fase de adaptação inicial, quando os efeitos colaterais são mais intensos.
Além disso, quem engravidar durante o tratamento deve procurar orientação médica imediatamente, uma vez que a segurança desses medicamentos durante a gestação ainda não é comprovada.