Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) aponta que dois sintomas precoces da esclerose múltipla (EM) podem servir como indicativos importantes para prever a progressão da doença e orientar decisões terapêuticas mais assertivas. A pesquisa observou que a presença de visão turva e disfunções do esfíncter — como dificuldades para controlar a bexiga ou o intestino — logo no início do quadro clínico está relacionada a maiores chances de evolução para formas mais graves da enfermidade.
A análise envolveu 195 pacientes diagnosticados com esclerose múltipla. O acompanhamento foi feito com base na Escala Expandida do Estado de Incapacidade (EDSS), instrumento amplamente utilizado para medir a progressão da doença em termos de comprometimento funcional.
Segundo os dados, pacientes que apresentaram visão turva no início do quadro tinham uma probabilidade 20% maior de desenvolver limitações funcionais severas ao longo do tempo. Já aqueles com disfunção esfincteriana precoce mostraram um risco 24,5% mais elevado de atingir níveis graves de incapacidade.
Curiosamente, outros sintomas que costumam surgir na fase inicial da EM, como paralisia aguda e hipoestesia (sensação de dormência), não mostraram a mesma correlação com piora clínica, contrariando alguns estudos anteriores. Para os pesquisadores, ainda não há uma explicação definitiva para a ligação entre os sintomas visuais e esfincterianos e a progressão mais agressiva da doença, mas uma das hipóteses é de que esses sinais reflitam danos mais extensos no sistema nervoso central.
A equipe da UFBA ressalta a importância de mais pesquisas para aprofundar a compreensão dessas relações e, eventualmente, ajustar estratégias terapêuticas baseadas no perfil sintomático de cada paciente. Identificar precocemente quem está mais propenso a desenvolver formas severas de EM pode ser decisivo para oferecer tratamentos mais intensivos e personalizados desde o início.