Um novo estudo reforça o que especialistas em saúde mental e direitos humanos vêm alertando há anos: a chamada “terapia de conversão” não apenas falha em mudar a orientação sexual ou identidade de gênero das pessoas LGBTQIA+, como também está fortemente associada a sérios danos psicológicos.
De acordo com dados coletados de mais de 4.400 pessoas LGBTQIA+ nos Estados Unidos, indivíduos que foram submetidos a esse tipo de intervenção apresentaram índices significativamente mais altos de depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e pensamentos ou tentativas de suicídio.
As chamadas práticas de conversão englobam qualquer tentativa estruturada — seja por meio de métodos psicológicos, religiosos ou físicos — de modificar a orientação sexual ou a identidade de gênero de alguém. Apesar da ampla condenação por parte de instituições médicas e psicológicas renomadas, essas práticas ainda são aplicadas em diversas partes do mundo. Estimativas apontam que entre 4% e 34% da população LGBTQIA+ nos EUA já foi exposta a esse tipo de intervenção, especialmente durante a infância ou juventude.
O estudo em questão utilizou dados do PRIDE Study, uma pesquisa em andamento que acompanha a saúde da comunidade LGBTQIA+ norte-americana. Os participantes tinham entre 18 e 34 anos, com média de idade de 31. A maioria (57%) se identificava como cisgênero, enquanto 43% eram pessoas trans.
Entre os entrevistados, 3,4% relataram ter passado por práticas de conversão focadas em sua orientação sexual, 1% passaram por intervenções voltadas à identidade de gênero e outros 1% afirmaram ter enfrentado ambos os tipos de tentativa. Os pesquisadores identificaram fatores comuns entre os que foram submetidos às práticas: educação religiosa, viver em comunidades não acolhedoras em relação à diversidade de gênero, pertencer a minorias étnicas e ter menor nível de escolaridade.
Na maioria dos casos, essas intervenções foram conduzidas por líderes ou instituições religiosas (52%) ou por profissionais e entidades ligadas à saúde mental (29%). Padrões semelhantes também foram observados entre aqueles que sofreram tentativas de alterar sua identidade de gênero.
Os pesquisadores destacaram que os níveis mais altos de ansiedade, depressão e sintomas de TEPT foram relatados por pessoas submetidas especificamente a práticas de conversão voltadas à identidade de gênero. No entanto, os piores indicadores de saúde mental, incluindo tendências suicidas, foram observados entre os participantes que passaram por tentativas de conversão tanto da sexualidade quanto da identidade de gênero.