Um estudo recente do Van Andel Research Institute, nos Estados Unidos, trouxe uma descoberta surpreendente: o risco de desenvolver câncer ao longo da vida pode começar ainda no útero, durante o desenvolvimento fetal. A pesquisa, publicada em abril, identificou dois estados epigenéticos distintos que parecem influenciar essa predisposição — um ligado a menor risco e outro que aumenta a vulnerabilidade à doença.
Os cientistas observaram que esses estados epigenéticos, que funcionam como uma espécie de “marca reguladora” nos genes, são definidos já nas primeiras fases da vida, antes mesmo do nascimento. Em testes com camundongos, aqueles com menores níveis do gene Trim28 apresentaram variações epigenéticas nos genes relacionados ao câncer, sugerindo que essas modificações podem impactar diretamente o risco de desenvolver a doença no futuro.
A pesquisa também revelou que o tipo de câncer pode variar de acordo com o estado epigenético herdado: indivíduos com menor risco, quando desenvolvem a doença, tendem a apresentar tumores hematológicos, como leucemias e linfomas. Já os que nascem com maior vulnerabilidade têm mais chances de desenvolver tumores sólidos, como os de próstata ou pulmão.
O achado desafia a visão tradicional de que o câncer surge apenas a partir de mutações genéticas adquiridas ao longo da vida. Em vez disso, reforça a importância da epigenética — o conjunto de mecanismos que controlam a ativação ou desativação dos genes sem alterar a sequência do DNA.
Para os autores do estudo, entender melhor esses estados epigenéticos abre novas possibilidades para o futuro da medicina, incluindo estratégias mais eficazes de prevenção, diagnóstico precoce e tratamentos personalizados. O próximo passo dos pesquisadores será investigar como esses padrões se relacionam com tipos específicos de câncer e como podem ser monitorados ou modificados ao longo da vida.