Um novo estudo revelou que criar e consolidar hábitos saudáveis pode levar bem mais tempo do que se imaginava. Pesquisadores da Universidade do Sul da Austrália analisaram o processo e concluíram que a adoção de novas rotinas pode levar de dois meses a um ano para se firmar de fato no dia a dia.
O tempo da mudança
Por muito tempo, acreditou-se que bastavam 21 dias para transformar uma ação em hábito. No entanto, a nova pesquisa, publicada na revista científica Healthcare, derruba esse mito. O estudo analisou dados de mais de 2.600 pessoas e mostrou que, enquanto alguns hábitos podem começar a se formar em oito semanas, outros demandam um ano até se tornarem automáticos.
Entre os comportamentos analisados estavam práticas como passar fio dental diariamente, manter uma alimentação equilibrada e fazer exercícios físicos. O tempo necessário para consolidar cada hábito variou entre os participantes, mostrando que não há uma regra fixa para todos.
O desafio de vencer o “piloto automático”
Adotar um estilo de vida mais saudável não depende apenas de força de vontade. O cérebro humano tende a resistir a mudanças, preferindo padrões já estabelecidos. Isso acontece porque nosso sistema neurológico busca conforto e recompensas imediatas, o que pode dificultar a implementação de novos hábitos.
“Nosso cérebro interpreta mudanças como ameaças, mesmo quando são positivas. Por isso, iniciar uma nova atividade ou modificar comportamentos exige um esforço considerável”, explica a médica Sley.
Apesar desse obstáculo, há um ponto positivo: hábitos que resistem por mais de seis meses têm grandes chances de se tornarem permanentes.
Pequenos passos fazem a diferença
Para tornar o processo mais fácil, especialistas recomendam a técnica dos micro-hábitos. A estratégia consiste em começar com mudanças pequenas e progressivas, tornando a transição menos desgastante.
Um exemplo prático é para quem deseja frequentar a academia após o trabalho. Em vez de tentar mudar toda a rotina de uma vez, um primeiro passo pode ser apenas levar a roupa de ginástica no carro, facilitando a ida direta para o treino.
Essa abordagem foi popularizada pelo pesquisador B.J. Fogg, da Universidade de Stanford, que aplicou o conceito para criar o hábito de usar fio dental. Ele começou passando o fio em apenas um dente por dia, até que a ação se tornasse automática.
“Pequenas mudanças são menos intimidantes e mais fáceis de executar. Por exemplo, para quem quer beber mais água, basta deixar uma garrafa sempre por perto e criar lembretes”, explica a especialista.
Persistência é essencial
Recaídas fazem parte do processo. Muitas pessoas enfrentam dificuldades e tentativas frustradas antes de conseguirem estabelecer um novo hábito. Por isso, é fundamental ter um motivo claro para a mudança e celebrar pequenas conquistas ao longo do caminho.
Outro fator importante é o apoio social. Ter alguém que acompanhe a jornada e incentive nos momentos difíceis pode fazer toda a diferença.
“A construção de hábitos saudáveis vai além da disciplina. Emoções criam hábitos, então é importante transformar cada progresso em uma conquista”, conclui a médica.
Ao longo do tempo, esses novos comportamentos deixam de ser um esforço consciente e passam a fazer parte da rotina de forma natural, trazendo benefícios duradouros para a saúde e o bem-estar.