Um estudo impactante sobre as percepções de médicos brasileiros a respeito do fim da vida revelou uma aparente dissonância entre a prática profissional e o desejo pessoal. Segundo a pesquisa, mais da metade dos médicos entrevistados optaria pela eutanásia para si mesmos caso fossem diagnosticados com uma doença incurável em estágio avançado, como câncer ou Alzheimer.
Publicado na Revista Bioética, uma publicação do Conselho Federal de Medicina (CFM), o estudo ouviu médicos de diversas especialidades e apontou que 53% deles escolheriam a eutanásia em um cenário de doença terminal. Esse percentual sobe para 57% quando a condição hipotética é uma doença neurodegenerativa grave e incurável, como o Alzheimer em estágio avançado.
A pesquisa destaca um dilema profundo para a classe médica. Enquanto a eutanásia — o ato deliberado de abreviar a vida de um paciente para aliviar seu sofrimento — é tipificada como crime de homicídio no Brasil, os profissionais que lidam diretamente com o sofrimento de pacientes terminais demonstram um desejo majoritário por essa opção em suas próprias vidas.
Diferenças Cruciais: Eutanásia, Ortotanásia e Distanásia
É fundamental, no entanto, distinguir a eutanásia de outras práticas relacionadas ao fim da vida. O estudo ressalta a importância da ortotanásia, que consiste em não utilizar métodos extraordinários ou desproporcionais para prolongar a vida de um paciente terminal, permitindo que a morte ocorra de forma natural e sem sofrimento. A ortotanásia é uma prática ética e legalmente amparada no Brasil, sendo defendida pelo CFM como uma forma de garantir uma “morte digna” através de cuidados paliativos.
O oposto da ortotanásia é a distanásia, considerada antiética, que é a prática de prolongar a vida a todo custo, muitas vezes à custa do sofrimento do paciente.
