Durante o mês das mães, o Hospital Infantil Lucídio Portella (HILP), em Teresina, destaca uma trajetória marcada por resiliência, amor e descoberta. A história de Ozelina Nascimento, técnica de enfermagem e cuidadora de idosos, representa a realidade de muitas mulheres que enfrentam o desafio de criar filhos atípicos — muitas vezes sem sequer saber disso por longos anos.
Aos 45 anos e mãe de quatro filhos, Ozelina convive com o autismo em três deles, incluindo um casal de gêmeos. O diagnóstico, no entanto, demorou a chegar — e a primeira a ser identificada com o transtorno foi a primogênita Cynthia Karolina, de 27 anos, já na vida adulta.
“Sou autista, tenho TDAH e altas habilidades. Só descobri tudo isso aos 25 anos, quando já estava no mestrado. Foi um alívio, mas também doloroso lembrar de tudo que enfrentei sem entender o porquê. Sempre me senti diferente, deslocada, e cresci sem o suporte que precisava”, conta Cynthia.
Um olhar mais atento após o primeiro diagnóstico
O diagnóstico de Cynthia acendeu um alerta em Ozelina. Durante uma consulta, ao mencionar que tinha outros filhos, a médica explicou que as chances de irmãos também estarem dentro do espectro eram altas. A partir daí, a mãe decidiu observar mais de perto os comportamentos dos outros filhos.
“Quando ela falou que a probabilidade era de 75%, comecei a buscar avaliação para os demais. A caçula, Suzana Rachel, já foi diagnosticada com autismo nível 1. Os outros dois também estão em acompanhamento”, relata.
A virada veio durante uma das consultas no HILP, que, segundo Ozelina, marcou o início de uma nova fase para a família. “Foi a primeira vez que me senti realmente ouvida. A médica entendeu tudo só de conversar, sem que eu precisasse ler a lista de observações que levei. Fui acolhida, me senti compreendida. Saí de lá chorando, mas aliviada”, lembra com emoção.
Maternidade atípica e a luta por respeito
Mesmo antes dos diagnósticos, Ozelina já intuía que havia algo diferente com os filhos. “Desde pequena, minha filha mais velha precisava de cuidados especiais. As pessoas diziam que era manha, birra… Mas eu sabia que não era. Sempre cuidei dela do meu jeito, mesmo sem saber o nome daquilo que enfrentávamos”, explica.
Hoje, com mais informação e suporte, mãe e filha se unem pela causa da inclusão. Cynthia chama atenção para os desafios enfrentados por pessoas com autismo funcional, que, apesar de conseguirem estudar ou trabalhar, enfrentam preconceito e falta de adaptação.
“Existe uma ideia errada de que, por sermos ‘altamente funcionais’, não precisamos de tratamento ou apoio. Mas o sofrimento existe, o preconceito é real. Lutamos por mais acesso à saúde, ao diagnóstico precoce, e principalmente à empatia”, reforça Cynthia.
Acolhimento como parte do tratamento
A diretora do HILP, Dra. Leiva Moura, destaca que histórias como a de Ozelina refletem o compromisso do hospital com o cuidado humanizado. “O diagnóstico não é o fim de uma trajetória, mas o começo de um novo olhar. Aqui, buscamos oferecer mais que atendimento: queremos escutar, orientar e caminhar junto com cada família”, afirma.
Para Ozelina, essa escuta e acolhimento fazem toda a diferença. Hoje, ela segue sua caminhada com mais informação, segurança e consciência de que o cuidado com seus filhos começa no reconhecimento de suas singularidades.
“Diagnosticar é cuidar. Não é sobre rotular, é sobre entender para poder ajudar”, resume.